'Oração'

Roma, 22/05/2020

Há semanas que não oro

Não do jeito que gosto

Quando antes

Durante e depois

A reza nasce no coração

E transborda pelos olhos

Tenho medo

De que algo sincero

E verdadeiro

Se torne um rito mecânico

Frio e metódico

E talvez esse seja um erro

Assim me enfraqueço

Me afasto dos anjos

Das sombras viro alvo fácil

Me entregando aos sentidos

Que me cansam

De tantos desejos

Alguns nada básicos

Sempre tive um gênio forte

Com uma característica complicada

De não fazer só porque mandam

De não acreditar só porque cobram

Sempre fui um buscador de lógica

Bastante cético

Com teimosia de retórica

Mais até do que devia

Muito mais do que suportam

Mas nem tudo tem que fazer sentido

Nem tudo deve ser feito

Só quando nos sentimos prontos

E isso eu tenho aprendido com os livros

Meus mestres pontuais

Mesmo tardios

Sem eles eram grandes

Todos meus pequenos tombos

Mas algo em mim

Continua cada dia mais vivo

Da minha bússola

É o norte

A minha forte intuição

O farol que me guia

Em mares revoltos

Remotos

O conhecimento é terreno vasto

E vai além do infinito

Constrói pontes

Cria asas

Mas também fabrica abismos

E uma dose errada do antídoto

Não preciso nem dizer

Já sabemos onde termina

A responsabilidade do saber

Faz cada erro pesar em dobro

Nos recorda autores

Das nossas próprias feridas

E eis o maior dos desafios

Onde está você oh equilíbrio

Qual é a dose certa

De conhecimento e de leveza

De amor e de juízo

De loucura e sanidade

De ser Humano e ser Divino

Por que os lados do caminho

Tem tanto poder de sedução

Por que eu vejo a porta

E mesmo assim desvio

Como me salvar

Se sou a própria perdição

Sou meu próprio precipício

A cruz

Muito antes do Mestre Nazareno

Já era usada para indicar

Aos mais sábios e atentos

Como deve ser feito ‘o caminho’

Neste momento terreno

Os braços abertos do Cristo

Indicam nossa humanidade

Nosso pé nesta terra bendita

A experiência do espírito na carne

Seu corpo

Indica as estrelas

Aponta o Alto

De onde vem harmonia

O nosso derradeiro destino

O Todo do qual somos Parte

Olhar para as estrelas

Já foi

E ainda é

O melhor de todos os guias

A mais bela de todas as artes

Seu coração

O encontro dos dois traços

Assim como o nosso

É o mistério e o segredo dos magos

Onde mora a Centelha Divina

Por onde fala a Alma

E toda experiência já vivida

Por tempos calada

Ah coração

Nosso incansável conselheiro

Mesmo sem quase nunca ser escutado

Por muitas vezes pelo ego falseado

Pois só pode ser ouvido

Em profundo silêncio

E agonia sincera

Segue sempre empenhado

Esperançoso de nós mesmos

Sofre a cada recaída

Mas esse silêncio interno

Não interessa ao ‘mercado’

Aos governos

Modernos monarcas

E suas oligarquias de 'ratos'

E por isso nas escolas

Não nos ensinam

O silêncio que fala

Só quando têm medo

Nos fazem calar

Nos circulam com armas

Ou nos ensinam a usá-las

Um ser em ‘silêncio’

Não respeita falsas hierarquias

Destrói toda ilusão

Não interessa aos tiranos

E aos ‘nobres’

Que acham que dominam

Pobres coitados

Mal sabem onde isso termina

Quando jovens

Só aprendemos álgebra

Geografia e química

E a história

Das danças de cátedras

Mas nunca nos disseram

Que somos pura alquimia

Por não saber

Nem ser

Não nos despertam

Para o verdadeiro sentido da vida

A verdadeira razão

De nossas vindas

Fases

E brigas

Por que não nos ensinaram

Enquanto era cedo?

Que na verdade

Ninguém nos ensina nada

Apenas desperta

O que sempre esteve dentro

Dentro desse poderoso mestre

Que pintamos de vermelho

E o partimos por não conhecê-lo

E por achar

Que o do outro não merece respeito

Nos obrigaram a orar sem sentirmos

Nos levaram a um batismo

Não consentido

Para o que serve a crisma

Se não para confirmar

E repetir um equívoco

De um lado

Os desumanos demais

Seguindo e vivendo

Sem escrúpulos e destino

Do outro

Os donos das morais

Criando julgamentos e culpas

Mas por serem humanos

Pecando escondidos

“Faça o que eu falo

Mas nunca o que eu vivo

Vê se volta mais tarde

Meu lindo menino...”

Criaram o inferno

Como controle

E o purgatório

Para vender indulgência

Os ritos em busca do dízimo

Em uma infame negociação

Com a Divina Inteligência

Que jamais criaria o ‘paraíso’

Que nos deu a liberdade absoluta

Sem nunca pensar em castigo

Nem mesmo penitencias

Que Pai Justo

Bondoso e Perfeito

Abandonaria por um só segundo

Quiçá para sempre

Um filho

Em um buraco profundo

Que queima

Quem Ama

Jamais criaria um inferno

Por não saber Amar

O criamos nos mesmos

Desejando sem fim

Odiando por medo

O umbral

Fica em nossas cabeças

E antes que me esqueça

O carma não existe para punir

É das justiças

A mais coesa

Pois nos permite os erros corrigir

Basta que isso

Sinceramente se queira

Ah se eu soubesse antes

O que descubro

Aos pouquinhos hoje

Pecadores todos somos

E o pecado maior

Talvez o único

É não entender o infinito

Que somos

Nos julgamos e nos cobramos

Por achar que esse é o começo

E que na frente tem um fim

Absoluto

Quente

Inútil

Terrível

Graças a Deus não é assim

E amanhã

Ou na próxima dor

Essas palavras para mim

Podem ter nenhum sentido

Mas algo sou capaz de afirmar

Meu coração

Ah meu coração

Esse sabe

Para onde devo

E com certeza estou indo

Ele tem me sussurrado um segredo

Me diz que dentro dele

É onde Deus está dormindo

E a verdade absoluta

É só Dele

Que já existia antes do início

Ou seja

Tudo que criamos é plágio

Por sermos Partes

Cocriamos a ‘realidade’

E toda essa Obra de Arte

Em tons de vida

Mas Original

Só existe Um

E para finalizar

Depois de tanto me alongar

Compartilho uma oração

Que hoje estou sentindo

Gratidão

Pai

Pela Vida

Pela Criação

Pela oportunidade

Na matéria oferecida

Por quantas vezes for preciso

Vivenciada e bem vinda

Gratidão

Pelo que foi

Pelo que é

Pelo que vem

Por tudo que nos ensinou

E nos ensina

Por ter nos dado a Vida

Sem jamais querer tirá-la

Ou cobrar qualquer valia

Não te pedimos perdão

Porque hoje sabemos

Que nunca nos julga

Somente nos Ama

E ensina

Mesmo assim

Sentimos muito Criador

Por tantas vezes nos afastarmos

E só buscarmos Teu colo

Quando a dor invade nossas vidas

Ou quando o desespero

Bate em nossas portas

Mesmo sendo filhos pródigos

Ainda somos egoístas

E nada mais pedimos

Pois tudo já nos foi dado

Mas com a sua Misericórdia

Nos proteja de nós mesmos

Nossos mais cruéis inimigos

Nossas fraquezas

Mas tendências

Maus hábitos

Orgulho

Egoismo e vícios

E de todo o mau e rivais

Que atraímos e espalhamos

Ao nos entregarmos a isso

Ilumina;

Nossos caminhos

Nossos passos em falso

Passeios noturnos

E descalços

Nossa visão

Para que vejamos a Luz

Em qualquer que seja a treva

Por maior que seja o escuro

Para que possamos ver as grades

Nossa audição

Para ouvir com paciência

Compaixão e confiança

Tudo que nosso irmão revela

Livre de todo julgo

E comentário

Nossa fala

Para que seja sempre clara

Sincera e amena

Carregada de amor

Vazia de maledicência

E nunca amarga

Mas sempre serena

Assim também

Nossas atitudes

Nossos toques

Nossos gestos

E tudo aquilo que saia de nós

Que possa deixar sequelas

Preservando o equilíbrio

Trazendo Paz definitiva

Seja qual for a guerra

E ao cairmos

Oh Pai

Bondoso e Justo

Nos fortaleça

A cada desvio

A cada queda

Nos sustente

Nos incendeia

Segura nossas mãos

Para que assim

Nos levantemos sempre

O mais rápido possível

Da melhor maneira

Como devemos

Como somos

Teus Amados

E Divinos Filhos

Herdeiros da Sua Terra

E que Sua vontade

E somente Ela

Seja feita

Hoje

Agora

Amanhã e Sempre

Aqui

No céu

No cosmo

Na terra

Em qualquer dimensão

Universo ou planeta

Hoje sei o Seu nome

E o carrego tatuado no peito

Nenhum outro nome

Nenhum outro Pai

Seria tão Perfeito

Como o Amor

Gratidão Divino Amor

Santificado seja.

o sarto
Enviado por o sarto em 22/05/2020
Reeditado em 22/05/2020
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