“O 'erro' do poeta”

Roma, 16/04/2020

Aprendi

Com os italianos

Algo inútil

Se não fosse sutil

Poético

E trágico

Neste país

A palavra saudade

Não existe

Não tem tradução

Faz parte das suas vidas

Mas não do dicionário

Em outros povos

Escutem o que digo

Pois sinto

Também não

Não se traduz

O insondável

Mas diga isso

Ao meu coração

Nem sempre

Solitário

Não só ao meu

De outros poetas

E leitores afincos

Tão quão iludidos

Famintos comparsas

Alados

Seguimos

Tentando

Achando

Procurando

Andando

Voando

Feridos

Mancando

Por vezes

Perdidos

Incautos

Insanos

Nessa busca

Por encontrar

Palavras

Permutas

Cúmplices

Adjetivos

Que expliquem

Afaguem

Traduzam

Enganem

Ou matem

O vazio

Que esse sentimento

Essa palavra

Que no rosto

Salga

E ardor

Deixa no coração

E na alma

Quando partem

Nos partem

Ou partimos

Sem as malas

E eu sigo

Insisto

Veja essas linhas

E todos esses poemas

Textos ressentidos

Repetidos

Minhas meias verdades

Inteiras saudades

Vontades antigas

E novas

Intensas

Desconhecidas

Ainda

E isso

O que importa

Quem sabe

?

Não as explico

Assim simplifico

Nem as reprimo

Pois aqui eternizo

O que as ‘faltas’

‘Saudosas’

Fizeram

E fazem comigo

Esse artesão

Que vivia fingindo

Que fingia viver

Viciado

Apegado

Aos ritos

Agora ao menos

Agradecido

Não mais sem rumo

Ou perdido

Pois foi reiniciado

Por dois Anjos lindos

Todo poeta é um fingidor

Já dizia Pessoa

Em alguns dos seus limbos

Vagando em Lisboa

Não só finge a dor

Como a cria

Entre copos

E corpos

Sozinho

Sem proa

Por rumo

Aproa

Entrelinhas

Chuvas

E prosas

Vindouras

Sendo ator inocente

Convalescente

Enganando-se ente

No papel de autor

Do amor ‘conhecedor’

Mas dele afastado

Esquecido

Carente

Imitador

Imita a dor

De pessoas

E ídolos

Nada sinceros

Desconhecidos

Por trás das roupas

Dentes e bocas

Co-autor

‘Eis o que és’

Plagiadores

'Eis o que sois'

Devia ser

Será

Se assim quiser

Discípulo assíduo

Honrado

Urdido

Do Verdadeiro Amor

Nós

Vós

A sós

Confusos

Ansiosos

Caóticos

Atros

Assimilamos

Refletimos

Disseminamos

Expelimos

Pensamentos

Sentimentos

De egos

Que ensinam-se

Que pensam-se

Que fingem-se

Reais

Amigos

Que pensam serem

Nós

A voz

Um elo

Falando

Ao pé do ouvido

São muitos

Em ti

Em mim

Em si

Ou fora

Por aí

Por aqui

No sertão

No cerrado

E nas orlas

De segunda

A domingo

Por horas

Afinco

Sem folga

Não por mau

Nem atoa

Foi a 'vida'

O medo como cais

Sobrevivência

Apego a fantasias

Sodoma e Gomorra

Ilhas e masmorras

Sorrisos que enganam

Que desensinaram

Nos embriagaram

Confundiram

Soterraram

Seduziram

Isolaram

Não só em Portugal

São Paulo

Nas ruas de Roma

Porto Seguro

Na Bahia

Minas

China

Ou Verona

Até na lua

Há quem viva

Sangre

E minta

Não

Uma mentira nova

Revolucionária

Mais uma

Nem má

Nem boa

Então perdoa...

Metem

Nas poesias

Sentidas

Culposas

Mal lidas

Sofridas

Por não mais

Que horas

Ou dias

Algumas jorradas

Borradas

Guardadas

E outras em transe

Escritas

Que se forem obra prima

Restarão preservadas

E raras serão

Se sagradas

Se compreendidas

Doídas

‘Loucuras’

Em rimas

Em taras

Sortidas

Nas músicas

Também

Contaminam

Com melancolia

Apego

E posse

Que deturpam

Banalizam

Sujam de paixão

E desespero

O que pintam como amor

Que triste

Se isso fosse

Sendo assim

Meus caros

Do caminho do poeta

Sofredor

Vitima

Escapo

Me aposento

Dessa iriada

Desse fardo

Adornado

Quanto mais eu sigo

Menos poeta me acho

Mais os poetas se calam

E os ventos profetas

Me falam...

Que não me encaixo

Pois o Amor tocou em mim

E em silêncio

Deixou algo bem claro

A dor

A quem Foi tão relacionado

Em um erro crasso

É um dos primeiros estágios

Na volta ao Caminho

No verdadeiro caminhar

São os primeiros passos

É um aviso

Que seguíamos

Ou seguimos

Em perigo

Sonâmbulos

Descalços

Errados

Tanto já foi falado

Cantado

Redigido

Declamado

Assistido

Aclamado

Mas a verdadeira poesia

Está nos campos

Nos lírios

Nas montanhas

Nos diferentes

Mas iguais

Em nós

Nos laços

Sem nós

Sem grades

Nos atos

De Luz

E Paz

Ou seja

Na renuncia

E entrega

Do arauto

O fruto fala

Mais que um letrado

No Amor

Amados

Não existe dor

Nem mesmo machucados

Pois Nele tudo é lição

Permissão

Da perfeita imperfeição

O mundo é cenário

Real

Místico

Abstrato

Ilusório

Mágico

Lúdico

E sádico

Um teatro Sacro

Erros e acertos

Nesta Santa Escola

Tudo tem significado

Tudo vem de aprendizado

Tudo vai quando encerrado

Não se sofre por Amor

Assim também

Pela saudade

Pois o Amor

É o Grande

E Bondoso Professor

E a saudade

Prova que Ele existe

E já pôde

Ou pode ser tocado

Deus

Como também é Chamado

É o Autor desses

E demais fonemas

De qualquer vocabulário

E Ele

Mestre dedicado

Ensina

Em linhas tortas

Folhas mortas

Remendos

E retalhos

Que o apego

É o maior dos enganos

É um erro literário

E assim

Acolhe

Anota

Liberta

E Nota

Tudo

E Todos

Na imensidão

E compaixão

Infinitas...

De Seu Perfeito

E Divino

Diário.

o sarto
Enviado por o sarto em 16/04/2020
Reeditado em 17/04/2020
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