"Dimora"
Roma, 13/03/2020
E se fosse o fim de ‘tudo’
Do que chamamos de mundo
Que às vezes parece amargo
Abandonado
Insensato
Infinito absurdo
E se fosse o fim da existência
De toda a urgência
Ponto final da aparência
Ruína de toda descrença
Da indiferença
Do egoísmo
E de tanta ingratidão
Terei eu
Atingido uma meta
Qualquer uma
Nem que seja discreta
Deixado para trás
Minhas trevas
No sentido da Luz
De uma Nobre Missão
E se tudo cessasse
Neste exato momento
Nas próximas linhas
Frios
Parassem os dedos
E se não mais existissem
Não só o espelho
Mas o que nele vejo
Que pensava por mim
Que pensava ser Eu
Teria ou terá
Valido o tempo
?
Desejos
Apegos
Paixões
Competições
Rivalidade
Qualquer tipo de medo
Se não fosse o ‘hoje’
E o que se tornou
Quem escreve esse texto
Eu diria que não
Valem
E como valem
Valeram
Valerão…
Têm valor inestimável
O personagem
O filme
E todo elenco
Coadjuvantes
Amados
Dessa pequena
Grande história
De Amor
Superação
Regresso a fonte
Escondida em mim mesmo
No cessar das horas
Essa minha canção
Que aqui chamo de Vida
Seria por Deus recebida
Apreciada
Cantada
Aplaudida
O faria vibrar
Serenar
E sonhar
Com uma outra
Maior e melhor
Mais profunda ainda
Não mais feita
De chegadas
Tão rápidas
E tão dolorosas
Partidas
De grandes dores
Nas noites caladas
E das pequenas
Que gritam sozinhas
De folhas em branco
Cheias de palavras
Poemas em cor
Mas sem tinta
Visíveis distâncias
Cartas atrasadas
Nunca chegadas
Por puro orgulho
Covardia
Recuso-me hoje
A viver de certezas
Sou contrário as massas
Mesmo que a elas
Um pouco
Pertença
Aprecio a impermanência
Já a vi atuar
Destruindo geleiras
Não a dos polos
Mas a de fortalezas
Feitas de razões
Em turvos corações
Oriundas da vaidade
Do orgulho
Conselheiros malditos
Do infame ego
Perdido
Em veredas terrenas
Minha única certeza
É o Propósito Maior
Que tudo coordena
E que esconde
Não a esmo
Nem por mal
Toda Sua beleza
Onde a maioria
Enferma
Não procura
Dentro de si mesma
Por temer a solidão
E a responsável liberdade
Que vem dela
E por coerência
Aqui cabe uma emenda
Carrego uma outra certeza
Leve
Como uma pena
Cravada
Em meu próprio sistema
Memória
Alma
E errante coração
Que queima
Sou convicto
De que me são caras
Cada rima
Cada estrofe errada
Cada valsa estranha
Cada ensaio de amor
Cada nota de vida
Que a fizeram verdadeira
Sentida
Por tempos insana
Mas certeira
Assim
Quando a lua me deixa
E o sol se levanta
Agradeço esse mundo
Me despeço de tudo
Mesmo que aqui permaneça
E adie um luto
Mais uma saudade
Ainda sem nome
Uma lápide espera
Quem é que sabe
Quando é que ela chega
Temida e aguardada
Por alguns amada
Por outros odiada
Morte traiçoeira
O segredo da vida
A única verdadeira certeza
Que não cancela as minhas
Que não dá privilégios
Não sabe ler sobrenome
Ver cor de sangue
Muito menos beleza
Se tem fim meu contrato
Se recebo o chamado
Em que carro ela vem
Ou que barco
Não importa
Que venha
Tenho quem me espera de lá
A espera só muda de lado
Tenho quem amar também lá fora
Por todos os flancos
E se isso será aqui
Ou no mundo sem horas
Não mais interessa
Vou e pronto
Sem voltas
Sem férias
Tudo que conta
É doar sem demora
E onde será
Hoje sei
É o que menos importa
Pois a eternidade
Vi refletida em dois olhos
Em uma boca imaginei seu gosto
Em sorrisos a carreguei
Por minutos finitos
Dentro de abraços a experimentei
Anestesiado e sorrindo
Já quis parar o tempo
Seu filho adotivo
Ao ver alguém dormindo
Já o quis fazer voltar
Para um amor acordar
Do derradeiro sono
Que me maltrata
Não pude me despedir
E caminho ferido
Que egoísmo
Mas só a encontrarei
Dita eternidade
Em definitivo
No Silêncio que fala
E me chama para casa
E Ele vive
'Dimora'
No agora
Agora
Aqui
Vou indo.