Eu não nasci poeta

Eu não nasci poeta

E nem pelo fruto do acaso tornei um

A vida vem forjando isso em mim

Essa quase que insustentável anomalia

Ainda jovem fui pego desprevenido

Pelo primeiro amor e em seguida pela dor

No início do caminho até aqui

Por eles venho riscando meus versos e reversos

Em paralelo surgiram outros motivos

Não me ensinaram a ser poeta

Nem foi lendo Neruda, Vinícius, Drummond, Florbela...

Meu primeiro poema, por exemplo, nasceu de um beijo

E o segundo foi pela ausência daquilo que deu motivo ao primeiro

Por esses amores ora ganhados, ora perdidos

Custam-me ainda muito papel e caneta

Mas não pense você que sou um poeta completo

Porque se fosse, não escreveria mais

Cada poema meu

É um pedaço daquilo me explica um pouco mais

A vida finda

É poema acabado

Enquanto a morte não chega

Vou versando os dias

Rimando a madrugada

Fechando estrofes

Para ter forças pra seguir poemizando a vida

Não pedi pra ser poeta

Mas hoje, negá-lo seria como prender a respiração

Hora ou outra há de se soltar o ar prendido

Abro a gaiola e deixo o pássaro voar

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 23/12/2019
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