Eu não nasci poeta
Eu não nasci poeta
E nem pelo fruto do acaso tornei um
A vida vem forjando isso em mim
Essa quase que insustentável anomalia
Ainda jovem fui pego desprevenido
Pelo primeiro amor e em seguida pela dor
No início do caminho até aqui
Por eles venho riscando meus versos e reversos
Em paralelo surgiram outros motivos
Não me ensinaram a ser poeta
Nem foi lendo Neruda, Vinícius, Drummond, Florbela...
Meu primeiro poema, por exemplo, nasceu de um beijo
E o segundo foi pela ausência daquilo que deu motivo ao primeiro
Por esses amores ora ganhados, ora perdidos
Custam-me ainda muito papel e caneta
Mas não pense você que sou um poeta completo
Porque se fosse, não escreveria mais
Cada poema meu
É um pedaço daquilo me explica um pouco mais
A vida finda
É poema acabado
Enquanto a morte não chega
Vou versando os dias
Rimando a madrugada
Fechando estrofes
Para ter forças pra seguir poemizando a vida
Não pedi pra ser poeta
Mas hoje, negá-lo seria como prender a respiração
Hora ou outra há de se soltar o ar prendido
Abro a gaiola e deixo o pássaro voar