O poeta constata o iminente retorno do silêncio
Neste exato momento
na rede que o poema vai tecendo
suspende-se a matéria compressora do meu dia.
Ganha uma forma
coberta de poros
a antes densa e dura
que posso tomá-la até por fruta
e talvez mais:
fingi-la um beijo
uma tarde, qualquer outra espécie
de miudeza esplêndida,
de inscrição solar e funda.
É todo um esforço
levantar com a mão inquieta
a frágil natureza dessa tenda –
e suportá-la.
ou melhor:
manter os fios frágeis
(a côncava imagem
de uma ordem
afundando
a perder-se.)
Eu temo
não mantendo minha constância
tanto abismo:
prevendo a queda
arranco à voz mais alguns fios
e sustento
um pouco mais (até quando?)
esse pouco de mim que compreendo.