Intruso
Não sei quem me habita quando escrevo:
que outro sol, com seu pão de multitude
desliza com o sangue enquanto é noite.
E de que cidades surgem, necessários
estes contornos, tais depósitos
de humana melodia ressoando
sob a rocha, a pedra viva, o musgo
e o tronco atormentado.
Consigo vê-los, já de carne
(algo translúcida)
no murmúrio das corolas de alfabeto. São da matéria
da dor e da promessa, e comungam
com o estranho sob a tenda, conversando
quanto o silêncio contém e afeiçoa.
Não sei quem vive em mim quando eu escrevo:
Se o ar que a todos une
ou um ser de carapaça
segregando bem de dentro a seda indócil
que cobre de ilusão a madrugada.
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[Agora, uma interação que muito me honrou, da dileta e talentosíssima
ESTHER LESSA! ]
INTRUSO BANIDO
Também não sei que tanto em mim pulula e dança
Um rebuliço que nem tem definição
Sombras e chuvas sem qualquer explicação
Atormentados sentires que o Medo lança
E se uma saída busco,ainda a angústia avança
Não há nenhum sinal d'que acabe a inquietação
Há que sorver até o fim a condição
Que a todo humano inexoravelmente alcança
Nos vãos dest’alma, quisera bem me esconder
Ou quem sabe, nas asas dela poder voar
Pra longe, muito longe ou pra junto do mar
E quando Jesus ao desgraçado Acolher
Então toda a escuridão se há de dissipar
Pra qu’enfim, no espírito, possa A Paz reinar!
Esther Lessa
[Muito obrigado, Esther, pelo poema, que para mim foi um presente. Deus te abençoe!]