DESFECHO

Tão certo como o nada é tão lúdico,

A calmaria das manhãs à toa cintila.

Estou a procurar-me neste recôndito,

Onde está a poesia, minha pupila.

Ora eu escrevo bem, ora me foge a esperança,

Onde mais encontrarei tal real aliança,

Que me dê a sorte de estar leve?

Depois possa ser que eu releve...

Ou então caia aos prantos novamente,

Como um jovem que se acha clemente,

No entanto, nostálgico e choroso,

O que deveras é perigoso...

Certas vezes não só isso,

Dou aquele velho chá de sumiço

Para a senhora sensatez,

Que vem me visitar de mês em mês

Em casa, no luar entristecido,

Muitas vezes lembrado, outras esquecido...

Me peguei sorrindo neste conto,

Ao qual vos disponho...

Poeta aviador, escritor solitário,

Professor vidente, cada texto diário

São todos teus, meus heterônimos,

Ainda em modo anônimo,

No entanto, sempre aqui, em harmonia,

Seja pela noite ou pelo dia,

Me dando aquela força e alegria,

Que por aí e acolá contagia,

E a nostalgia me dá esse fôlego intenso,

Quando menos espero, quando menos penso,

Me vem mais uma vez aquele desejo:

De não ter rima, só desfecho.