BORBOLETAS
Meu poema último
Dependurou-se na janela
Do trigésimo andar.
Corria riscos, meu poema,
De quedar-se ligeiro,
Em queda livre,
Entre as pessoas que passam.
Meu poema último,
Aventureiro,
Esgueirou-se pelo parapeito,
Pelas quinas da janela...
Um escorregão, de repente!
Dedos brancos procuraram apoio...
Mas, quá! Debateram-se no ar
E despencaram urgentes,
Esborrachando-se entre as gentes.
Meu poema último jaz, incerto
Sobre a calçada irregular.
Meu poema último,
Suicida, em frangalhos,
Sufocado pelos pés apressados.
Meu poema último
Viveu como borboleta:
Voejar frágil,
Esvaecer ligeiro,
Vida fugaz!
Paulo Pazz