BORBOLETAS

Meu poema último

Dependurou-se na janela

Do trigésimo andar.

Corria riscos, meu poema,

De quedar-se ligeiro,

Em queda livre,

Entre as pessoas que passam.

Meu poema último,

Aventureiro,

Esgueirou-se pelo parapeito,

Pelas quinas da janela...

Um escorregão, de repente!

Dedos brancos procuraram apoio...

Mas, quá! Debateram-se no ar

E despencaram urgentes,

Esborrachando-se entre as gentes.

Meu poema último jaz, incerto

Sobre a calçada irregular.

Meu poema último,

Suicida, em frangalhos,

Sufocado pelos pés apressados.

Meu poema último

Viveu como borboleta:

Voejar frágil,

Esvaecer ligeiro,

Vida fugaz!

Paulo Pazz

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 06/05/2019
Código do texto: T6640534
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