PORTO SEGURO ( ou Sob as fileiras de José Régio) a Francisco de Assis Gois.
Tu me planejas, fazes para mim
O que nem mesmo eu desejo.
Fazes planos e me planificas,
Queres-me plano.
Entretanto, do princípio ao fim,
Tenho sido mais fugaz do que o beijo,
Todas minhas frentes e costas ricas
Cabem no cano.
Pretendes arejares e mudares, trazes planos,
Ignoras que meus caminhos são oblíquos.
Sou íngreme, torturado e tortuoso.
Enquanto mansionas, eu me acabano...
Teus cantares concisos... os meus profícuos...
Tua feitura em seda e eu, todo jutoso.
És raiz, apega-te à terra e às profundezas.
Tenho consistência de copa, busco as alturas,
Indiferente aos perigos dos grandes tombos.
Pautaste-te pela busca insana por riquezas,
Nessa dinâmica não há espaço para canduras,
Abandono lutas antes do soar do gongo.
Sou cheio de meandros e sinuosidades, serpenteio -
Tu, tu procuras linha reta, o alvo ao final dela !
Sou torto,perambulo pelas trevas, nunca me cerceio,
Pois não me sabem planos ao saltar pelas janelas.
Lá na imensidão negra do futuro mais futuro,
A certeza de que o andar na terra é para quem erra
E tomado desse andar errante, pouco dou-me ao que aterra,
Tanto faz se sou ou não porto seguro.