poesia de segunda

a roupa domingueira

refinada, imaculada

os cultos mascarados

junto com o dízimo

pretendem comprar o perdão

dos pecados perpetrados

por toda a semana inteira

a roupa de segunda

rude, necessária

do trabalho e do suor

árdua lida operária

nem bem sabe o que constrói

mas é o jeito que o alimento

chega à mesa proletária

pudera tal fossem as palavras,

despojadas do verniz

domingueiro que esvazia

ainda que rudes, sinceras

assim como o brim e o pão

rústica e farta nutriz,

não basta na vida a ilusão

Publicado no livro "poesia de segunda" (2011).