Descrevendo um poeta

Creio que de mim dei apenas a melhor parcela:

Palavras destiladas lentamente,

Como o suor das pedras

Após as tempestades.

Prostituída do desejo de criar,

Em versos desatentos,

O meu próprio Universo,

Acabei por me entregar

A mais antiga profissão dos pensadores.

Povoei meus mundos

Com a Vida que me foi negada em vida...

E surpreendi-me

Na desilusão da realidade...

Metáfora das metáforas:

A essência poética

É uma vivência hermética !

Busca, o Poeta, ocultar, em suas palavras,

O sentido da sua própria expressão.

Em cada figura, uma armadilha

Ao leitor desatento:

"Não me lerás assim, tão facilmente !

Decifra-me e, ainda assim, te enganarei !"

Posso afirmar que não há segredo mais guardado

Que a Alma do Poeta !

Ele não tem compromissos...

Nem Razão !

Busca, na contradição,

Distrair, do leitor, a atenção.

E, nos melindres de sua paixão,

Despistar sua própria emoção.

Sofre, com as Palavras !

Não somente com a Alma...

Devora-lhe o temor

De ser, um dia, desvendado

Pela interpretação, desmascarado,

Exposto à crítica,

Ao mais vulgar entendimento,

Qual um texto banal...

Assim, fugindo à lógica,

Persegue, em tortuosos labirintos,

Encontrar a sua própria, e ainda que absurda

VERDADE !

Pettine
Enviado por Pettine em 03/03/2019
Reeditado em 22/01/2020
Código do texto: T6588355
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