A PAUSA DO POETA
O outono faz cair as folhas,
faz pausa para primavera,
se o tempo de paz acaba,
interrompido pelos sons de guerra,
clamamos por nova pausa,
para o início de uma nova era.
As cheias rompem com o comum,
é novo o nível dos rios,
as secas interrompem muito mais,
levam vidas e belezas a fio.
O frio é a pausa do calor,
por qualquer um torce o expectador,
depende de qual seja sua sina,
se nasceu na pequena vila Russa de Omyakon
ou na Dallol do deserto etíope;
no desejo da mudança brusca,
numa pausa deste mundo míope.
E no som das orquestras,
quanta pausa nos sequestra,
no rompante agitado da música,
no brilho artístico do compositor,
que maravilha nos rouba os sentidos,
nesta dinâmica de tons do inventor.
Para também a mente do poeta,
cessam-lhe as ideias e as metas,
seca o tinteiro, estraga-se a pena.
Que pena!
Apenas pausas necessárias
para que o mundo seja visto novamente,
por outro prisma, do mesmo homem,
uma nova mente.
Não mente!
Apenas disse diferente ontem,
o que hoje precisei mudar,
não pelo inadequado,
mas porque neste estado,
com novas lentes é preciso enxergar.
Esquivam-se os versos,
não podem ser pegos,
inquieta-se a alma
deste homem do apego,
que aprendeu trazer alegria
pelas combinações
quase em melodia,
de letras escolhidas a dedo,
que esconde por trás dos segredos,
o que é real
do imaginário,
o verdadeiro
do vicário,
o explícito
do oculto,
entre o pouco que falo
e o todo do mundo que escuto.