RESPOSTA AO JOÃO-DE-BARRO
no que há de água em mim há água
eletricidade de água gera onda verde de lagoa
engendra onda espumosa de mar
e escuma de água parada
o que de água há em mim
é lama visguenta de pântano
onde vida pulula animal vegetal
animada e arejada
a água arenosa e gelada
tem força de uadi abrindo grotas em pedra
sob as dunas ocres dos desertos
no que há de água em mim há cuspe
baba bíblicos sangue água placentária
e água-rio semen, estranha a mim ofertada
no abrir sulcos e caminhos entranhados
o que há de água em mim é barro
o corpo modelado nos tornos e nas eras
onde, entre mãos e pernas arregaçadas,
água escorrega chiado e fogo
forno vermelho de infinitos graus
abriga e cose formas ocas e fundas de servir
quase desde o início do mundo