UM FEITIÇO

Escrever um poema é assinar um atestado
De que escapo dos grilhões do mercado
Seja no trânsito, seja trancado no banheiro
Escrever um poema é não ser tão inteiro
 
Escrever um poema é abrir parênteses
Entre o tempo fechado e o espaço aberto
Para dizer ao mundo que me fecha os olhos
Que a vida não cabe dentro de uma cidade
 
Escrever um poema é esquecer da carne
E do sangue que forja as paredes da veia
Para abrir a porta da alma ao amor pairando
Sobre os papéis manchados de sonhos e letras
 
Eu nunca quis escrever poemas aleatoriamente
Mas ser metódico com minhas gavetas internas
Um vendaval toma-me de assalto no meio da noite
Leva-me para mundos que não se localiza com GPS
 
Eu nunca quis fugir e me esconder entre estrofes
Sempre gostei da matemática e suas exatidões
Mas há um feitiço até em números tão concretos
Espreitando-me nas horas mornas dos dias dispersos
Escrever um poema é uma constante falta de explicação
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 25/07/2018
Reeditado em 25/07/2018
Código do texto: T6399868
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