ESPIRAL CONTÍNUA
“Diálogo com Jorge de Sena” (*)
Um só poema não basta para atingir a terra
Pois todos os caminhos exigem poemas.
São eles os fiéis lenitivos
E as puras águas necessárias
Que toquem o coração e enxuguem as lágrimas.
Poemas que se entrecruzam,
De um só rosto e de uma só fé,
Em labirintos virginais activos!
Que a Vida é uma espiral labiríntica
Por onde cirandam todos os humanos
Baptizados de medo, ainda que de alma nova!
E do alto da sua Torre de Babel
Cada um deles vai perspectivando
Um esboçado horizonte…
Em primeiríssimo plano aqui era uma nascente!
Que os humanos activem a sua mente,
Que os humanos travem o bom combate,
Que os humanos se esfarrapem
Desnudando os empecilhos que os toldam.
E os poemas se vão revelando mutuamente.
Aqui nunca correu a água clara.
Importa pois que os poemas deslizem
Por entre as sufocadas margens
E que possam aliviar pela sua limpidez
O aperto com que elas se confrontam…
E o alo perfumado da lira do poeta
Faça abrir de vez os olhos da alma
Dessa espiral contínua!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA
(*) – Sobre o seu texto ESPIRAL, in “Coroa da Terra”