Poema Não Dito
Eu queria ter feito um poema.
Um poema que alcançasse
Todos os olhos e ouvidos humanos.
Eu queria ter dito a minha dor
Para que todos soubessem o porquê
Que eu tanto chorei e pouco sorri
Um poema. Para que todos soubessem
O quão pouco vivi.
Um poema sem cor
Sem ideais humanos
Mas que tivesse vida
Puramente dita.
Queria gritar ao mundo
Pôr pra fora toda esta angustia
Que carrego em minhas entranhas.
E não cessa, e não passa
Pois ninguém ouve, ninguém vê
Ninguém sabe.
Um poema que matasse a fome
Não a do corpo
A fome da alma.
A fome por tudo aquilo
Que nem mesmo tem nome.
Um poema que calasse
Todos meus inimigos inventados.
Que me acordasse
Dos antigos pesadelos
Que carrego desde a infância.
Quando pego neste papel
A boca lentamente emudece
Os olhos, tristes e molhados
Se fecham...
Então sai de mim um grito
Com a força de mil trovões.
E este grito nunca é ouvido.
Nunca é sentido.
Pois ecoa sutilmente
Carregando o peso do meu silêncio.
Eu queria ter feito um poema
Um só poema
Onde coubesse minha alma.