A Música e a Poesia
Pelas musas sempre protegidas,
a Música e a Poesia
são duas irmãs muito unidas,
plenas de encanto e magia,
admiráveis por sua beleza,
tão sublimes em sua pureza,
que pela infinda Natureza
seu terno amor se irradia!...
Mas com tantas virtudes embora,
de ambas, uma é preferida
do mundo, por sua voz canora,
- a Música, tão extrovertida,
paixão dos deuses e dos mortais,
que em seus acordes magistrais
suscita-nos suspiros e ais
da emoção mais desconhecida!...
Discreta e alheia à fama,
a Poesia faz-se quietude,
mas aos sentidos de quem a ama,
em tão fascinante atitude,
sopra suaves inspirações,
tocando dormidas emoções,
que sequer sonham as multidões,
no alvoroço que as ilude!...
A Música cavalga os ventos,
arrebatando-nos corações,
extravasando-nos sentimentos,
entusiasmando as multidões!...
Mas no silêncio, a Poesia
faz-se luar e se irradia,
impregnando toda melodia
co'a magia das inspirações!...
A Música provém d'um mistério
que sequer os deuses desvendaram;
a Poesia, de seu etéreo
Parnaso - que poetas sonharam!...
Música - beleza infinita! -,
por quem nosso coração palpita!...
Poesia - se sutil nos visita,
só os poetas nela reparam!...
E foi ao voltar a Primavera
que, - a beber das inspirações,
d'uma fonte que mais pura era,
neste reflorir das estações,
-reencontraram-se as irmãs,
que são do belo as artesãs,
e ao perfume daquelas manhãs,
sonharam ideais criações!...
- Ó vem, vem comigo, Poesia!...
Quero apresentar-te ao mundo!...
- disse a Música, -voz macia...
- Vem revelar-lhe teu dom profundo!...
Unamos as vozes n'um só tema,
-lira, melodia e poema -,
criando a beleza suprema
aos humanos de sentir fecundo!...
- Levemos aos poetas da terra,
a seus menestréis e trovadores,
a inspiração que se encerra
na fonte que murmura amores,
donde, sob a sombra dos balcões,
e ao pulsar de suas paixões,
trarão à luz imortais canções,
eternizando nossos pendores!...
- Oh! sim, Música! Irei contigo!
- respondeu Poesia, sorrindo.
- Tua feliz ideia bendigo,
e teu convite é tão bem-vindo!...
Lavras dos músicos e poetas,
as canções, de belezas repletas,
serão nossas moradas secretas,
mundo em fora nos difundindo!...
E nas asas da brisa sutil,
a Música e a Poesia,
naquele dia primaveril,
partiram rumo à utopia!...
E rondaram palácios em festa,
saraus e a taberna modesta;
e à luz que a lua empresta,
sopraram canções a quem sentia!...
E assim, grandes compositores
de clássicos internacionais
surgiram, cantando seus amores,
em canções tornadas imortais,
com letras ricas de poesia,
unidas, em plena harmonia,
à música, que deles fluía,
e que não esquecemos jamais!...
Estes músicos, - cujas canções,
d'amores frustrados ou ditosos,
comoveram tantas gerações,
- lembram-nos hoje dias saudosos,
em que resguardados sentimentos
trocavam olhares, por momentos,
cartas, retratos e juramentos,
sublimes símbolos amorosos!...
Não mais surgiram belas canções...
E assim, a beleza morria!...
Pois a Fonte das Inspirações
de saudades também fenecia!...
Porém, as musas, - ah! sempre elas! -,
vêm a chamar pelas duas belas,
e já partem as quatro donzelas
para a fonte que se exauria!...
E de volta à fonte querida,
a Música e a Poesia,
com amor, devolvem-lhe a vida,
- e a inspiração renascia!...
E ambas artes, desde então,
zelam a fonte com devoção,
- e o mundo, sem inspiração,
sentiu falta de sua magia!...
E idos os bons compositores,
não mais surgiram novos talentos,
que eternizassem seus amores
em canções plenas de sentimentos!...
Mas comovidas por dó profundo,
as artes irmãs, por um segundo,
encontram-se, às vezes, no mundo,
- e sopram inspirações aos ventos!...
Cláudio Luiz Sá Brito Machado
Em 11 de outubro de 2015