P(r)o(bl)emas
Poesia alegre e gloriosa
Sempre esforçada e arrojada
Poesia triste e malquista
Da rica fonte do nada
Vem na hora do banho
Na hora de comer
Quando o nariz convoca o ranho
Antes de morrer
Poesia alegre
É difícil de escrever
Poesia sem pensar
Poesia sem querer
Poesia sem escrever
Vive lida em mim
Poesia nómada
Sem nenhum caminho pra trilhar
Mística
Viva
Que faz delirar
Por vezes nem é escrita
Pensada
Programada
Apenas poesia
Poesia sem rima
Falada sem canção
Dita sem palavras
Compreendida por meio de "nãos"
Da meia noite à insónia
Do acordar entorpecente
Que engole as forças e forja
Meu semblante muito sempre
Sem estética
Dialética
Métrica, ritmo e cor
Vazia como as noites
Em que não transpiro calor
É o santo lixo
Nas agendas e papéis
Cadernos e guardanapos
Guardo versos nas redes
E lembretes em farrapos
Poesia poeirenta
Nociva
Contra o bom humor
A tradução de problemas
Inquietude e bolor.