ROTINAS POÉTICAS
É grande a contagem de seres
perdidos pelo mundo,
mas algo maior é a vida
quando exibe a sua força.
E assim os perdidos se ajustam:
os caracóis simétricos à noite
os casais gays nos parques de Londres,
e a jovem sonhadora em Copacabana,
tocada pelas baleias que surgem
na Baía da Guanabara.
Ainda assim os dispersos são muitos
porque estão dentro do conjunto tudo:
problemas sem saída,
estorvos consumidos
mas se olharmos para cima,
nota-se a rotação do planeta,
que privilegia os vivos
mesmo que haja uma flor diária de mortos.
Eu passo pelos jornais
e agora se noticia
novas cerejeiras no bairro da Liberdade
em São Paulo.
Outro sinal válido chegou-me,
um instante de poesia:
“A ponta inocente do amor
que se anunciou
não trouxe somente o iceberg da súplica”.
DO LIVRO: ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS