MISTÉRIOS DE ACALENTAR MINHA MÃE MARIINHA

Publicado por Rubens Jardim, na 76ª POSTAGEM DA SÉRIE AS MULHERES POETAS, junho de 2016

http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=47637

- Senhora dona Sancha

coberta de ouro e prata

na infância da língua

eras uma rainha

-Que anjos me rodam?

Ando velha e medrosa

não mais toco o piano

sinfonias não componho

- Senhora dona Sancha,

silhuetas, sombras

vestidas de branco

guardiões de vossos sonhos,

dispensamos ouro e prata

mal nunca vos faremos

- Estou velha

bem velhinha

tenho medo de morrer

- Medo? Pois pois,

por que medo?

por que medo?

Se no vosso coração

canta uma menina

com quem brincamos de roda?

Dona Sancha

nossa senhora,

vos espantastes a morte

como se espanta galinhas,

shô morte, shô

- É verdade, é verdade,

shô morte, shô

Para os prados partirei

cavalgando meu cavalo

Sobre a cama da fazenda

me aguarda o vestido

feito na minha medida

Anjos meus por onde andais?

Senti algum calafrio

- Sombras vestidas de branco

somos a infância da língua

somos vossos guardiões

Vosso medo espantamos

com histórias que contamos

- Anjos, brancas silhuetas

segurem a minha mão

e dormirei sossegada

para acordar na fazenda

onde me aguarda azul

o vestido, nos braços

de meu namorado

Segurem a minha mão

como minha mãe segurava

quando eu ia ao dentista

Shô, morte shô

montada no meu cavalo

espanto muitas galinhas