SUTIL
Não me basta o que a palavra grita.
Eu quero o que ela insinua.
Palavra pode ser roupa bonita
que oculta beleza nua.
Quero o que não é explícito
no que a palavra diz,
mesmo que pareça ilícito,
machuque e deixe cicatriz.
Palavra é ferramenta
pra se usar sem desperdício.
O sentido o poeta inventa,
este é o seu ofício.
Seja qual for a palavra
que ela não esconda a dor
que a alegria trava.
Mas que fale de amor.
Se a maré for mais brava
tenha ela o destemor
que o desamor desencrava.
Seu sentido seja plantador
da flor, que a alma lava,
com sutileza de beija-flor.