Poema Medíocre
São tantas as palavras que me atrapalho.
Embriagado, bamboleio por uma avenida de verbos,
tropeço nos cadarços do verso,
dando de cara no asfalto.
E eu, que detesto a mediocridade das coisas óbvias
— como também de todas as demais coisas
—, revelo-me medíocre em todos os aspectos,
titubeante em meio à espectros de minha incapacidade.
Logo eu, que me elevo prepotente ante os demais,
tremo e escondo-me frente à figura da infinidade.
E, atabalhoado, peco contra os deuses e a gramática.
Quem salvará um homem como eu?
Que escreve de forma inconsciente,
Indagando consigo se essa é uma grave transgressão.
Quem salvará tal espírito altivo,
que ofusca a verdadeira natureza fragilizada?
Não há quem me salve
ou quem me absolva,
quando, nessas poucas estrofes,
dei vida a um monstro detestável:
um poema medíocre!