O papel do poema
Desintegro-me e me componho no poema
Envio-me e estou em cena,
Ordinário... vil, sem dono e sem nexo
Obediente, impresso no papel
Prove da minha essência em versos
Cuspa se não agradar o gosto
Ou faça um gesto obsceno
Chama-me de imoral,
Esfrega-me no seu rosto,
Na sua boca, no seu sexo
Estampa-me no Pasquim semanal
Na contra capa do seu livro didático.
Recorta-me um boneco
Dê-me um formato de gente
Um recurso pedagógico
Ou uma dobradura oriental.
Faça desse poema o que quiser,
Aperte-o entre os dedos
Até que neles não reste uma gota sequer.
O bagaço, pode usar sua força
E arremessá-lo pela janela
Talvez sirva de alimento para um cão
Ou de esterco para a terra.
Está na sua mão qual destino lhe dar
Eu, no seu lugar seria bem criativo
Caminharia até o cesto mais próximo
E o despacharia para o aterro
Num descarte seletivo