Papel

O papel é combustível,

Mas veja, não é contradição

Acalma um fogo inextinguível,

Escancarando um coração.

O papel é meu caminho pisado,

Ele é minha estrada,

Que às vezes ando com cuidado,

Às vezes de forma desvairada.

Nele viaja certeira a flecha de um cupido,

Ou a metralhadora dos meus ideais no seu ouvido.

Das idéias o escritório,

Das rimas laboratório.

O papel é meu cãozinho aqui do lado

Cara de pidão, abanando o rabo

Querendo um biscoito ou afago na barriga,

Falar de mim, falar da vida

A caneta se aproxima

E ele já entra no clima.

Num convite para um tratado,

Onde tudo esteja relatado

Desta saga que é meu coração,

Mas aceita piada, rabisco e até borrão.

Ele aceita o objetivo, mas democrático, também o prolixo

Das más idéias pode, num origami, virar avião

Ou bolinha para treinar basquete no cesto do lixo.

Ele é válvula de escape.

Nele o obsceno e o ágape

Para ele tudo pode ser um registro.

Do angelical ao sinistro

Tudo pode ser um alvo.

Nada nem ninguém está a salvo.