POÉTICA
Laço e sopro, poesia sem trava
De luz e sombra levanta seu corpo
E estende os braços de figueira-brava
Que serão descanso e forca além do horto.
(Que mapa turvo traça rima e rumo?)
Em labirinto, onde verbo é aldrava,
Ouvem-se árias de velhas cantigas
Com escalas de dissonante oitava,
Desconcerto que à correção obriga.
(Que metro deve ter vida sem prumo?)
Refúgio e prisão a tornar escrava
A memória ressuscitada em vão,
O poema vela o tempo enquanto cava
A câmara ardente desse vil ladrão.
(Que forma terá o abstrato insumo?)
Na pele e no coração das palavras,
Está a minha carne servida em versos
– Solo em que me disponho nessas lavras
Tentando unir o que sempre é disperso.
(Quem sou eu no canto em que me consumo?)