Artifício
porque foges de mim, poeta?
logo eu,
que te revelei
os segredos do mundo!
que te acalentei
nas noites frias,
que te ouvi na solidão...
logo eu,
que ansiava tuas palavras
decifrando meu mistério
tiveste o despautério
de dar-me às costas!
pereci, perdi o viço...
pois somente no teu verso
eu tomo corpo, eu vivo
e te faço jus
onde estás agora, poeta?
que a lua se oculta em convite
às revelações profundas
onde depositas
tuas paixões e pérolas
se neste mundo sou a única
que te traduz?
quanto tempo viverás
sem a magia do nosso contato?
quanto tempo negarás
a incontestável transcendência
do nosso laço?
quero ser, novamente,
adornada em tua estrutura,
musicada em tua métrica pura
ainda bem que sou eterna,
sou a poesia que espera
retornares do exílio
retornares aos meus mimos
e expressar teu ser divino
neste limbo metafísico...
nosso acasalamento místico
de poesia e de poeta
criando e nutrindo
a arte e ofício
do poema