O MEDÍOCRE DE TRÊS DE ABRIL
Está frio e Caio.
Em pleno verão do Rio,
Ando bêbado, um mal.
Mas, ébrio.
Mas, ando e nado.
Mas rio,
Como o corpo que abriga:
Um palhaço,
Ou um concubina,
Ou um homem em depressão
Depois do suicídio.
Não se assuste.
O que os bêbados dizem
Não tem sentido,
Eles só querem mais
E um pouco de tudo.
Chamam-me pelo nome,
Mas albergo um boneco.
Corpo de pano,
Debaixo de um poste.
Um poste que ilumina,
Os que me veem.
Hoje,
O respiro faz mal.
Sou doente da vida,
Quero só ser ausência.
Como quando saio na esquina.
Quantos goles...
Quantos goles cabem no meu quarto?
O primeiro é despedida,
Da despida que toca
O Blues, que é lamento.
Música do abrigo,
Do álcool de classe média.
De um puteiro luxuoso.
Acaba minha parte,
Não sinto minhas pernas
E vejo que tudo não se parece,
Um porre da vista.
Tenho que sair.
Todo dia,
Amante da razão.
Não mais da melancolia,
Ou da mentira.
Gosto da versão dos idiotas.
Da minha.
No bar da estória
Admito, invento a vida
E a esqueço...
...
Toda manhã das oito da noite
É fácil saber onde estamos.
Numa calçada que fede,
Que lembra,
E dá com tapa.
Sou um mendigo de mim,
Cuspa isso nal cara.
À vagabunda que quis,
Quis que fosse assim.
Merece mais que rum,
Palavra de padre
Ou uma barca de medo.
Sabe...
Esquece essa senhora,
Sou eu.
No meu altar,
Vomito o resto.
Esse é o ritual,
Do pai nosso.
Uma oração
Na mancha
De sangue
Com gosto
De partida.
Sou uma privada,
Esperando pela fome.
E ela me aguarda.
E mais um gole...
Mais dois e morro.
Morro de desgosto.
Qual será a sensação?
É como cuspir o pulmão?
É abril de 2045,
E estou num pais que não existe,
Mas ainda chuta os alcoólatras
E seus sujos,
E seus filhos.
Outra vez,
Vou me deixar pra trás.
Não me tolero,
Só a uma garrafa
Do outro,
Da tristeza.
Vou ao inferno,
Mas, volto,
Volto pro bar.