À VONTADE DE ALGO

Digo-a uma citação de minha autoria

É verosímil numa escala que não sei,

Que ainda assim é uma verdade que digo.

Aqui está a todo o verso que afio

Uma partida de mim para o eu,

Um individual exterior ao poeta

Que internaliza o próprio demonstrado.

Coloco meus óculos borrados,

Visto uma roupa de outra pessoa

Transformo dor em reverso como a quem se morre

O Todo dia é um escárnio

Que escarro sobre o papel,

Mas que diz tanto sobre a notoriedade

E sobre a tua vontade

E sobre a vontade de todos os leitos.

Sabemos da nossa dificuldade de sermos nós

E precisamos desta, e somos ela.

Entende a ser tu mesmo,

Sem qualquer capa de herdeira,

Será poética,

Ou mesmo o que digo.

A palavra aqui não passa de um tempo

Um passado de caneta numa linha

Que vai até ti e lhe presenteia

Com um rabiscado em preto

Das coisas que não dizem nada.

Digo mais, que é sem tempo,

Sem mísera razão metódica ao relógio

Falo de autoria simplória do rejeito

E anuncio que isto é uma partida,

A que vai embora

Ou a que embate a dois

Numa dimensão do agora.

O final disto é irrealizado

Tu farás o que citei digno de ver

Uma ocupação da minha realidade,

Surreal manifestação de ti,

Num mundo destruído em que sonhamos

Da verdade criada neste lugar.