EU NÃO CANTO
Escrevo versos porque não canto.
Se há graça, está na combinação
dos tipos com as letras na bancada
silenciados, mudos sem encanto.
Dito “no salão bailam palavras num canto e música no ar”
e quando escrevo componho ausências.
É meu dever arranjar quaisquer andaimes
aplainar relevos, encontrar a voz do verso
e cantar em seu nome.
Sempre aviso, para escrever vivo
e por isso minto se canto.
Para ouvir as mentiras que invento,
sigo o meu tanto.
Antônio B.