O poema dá prosa
No início, me disseram os mais antigos,
o ritmo era o verbo,
de quem se filtrou a poesia que os homens cantavam:
retiraram dela quase tudo, e parte disso
compôs a prosa.
São, então, carne da mesma carne.
Houve o primeiro poema.
Possivelmente dentro dele havia algum linguista!
Sem a delicadeza dos sons do poema,
Jamais teria nascido a prosa,
e ambas não seriam tão imprescindíveis à vida do homem.
O poema é de certa forma, a língua da boca da fala,
de onde tudo exala e quase nada fica.
O poema é o melhor abraço que a língua pode dar a quem o declama,
dizendo para a prosa que a gente também a ama,
com todos os versos de nossa alma.
A minha história não seria a mesma história
se dentro de minha vida eles não me entretecem,
a fazer-me um homem com fome e um menino com sede,
quase sempre construindo o amor em prosa e em verso.