O Cerco

É um cerco diário, minha vida

Quando eu acordo, elas já estão lá

Armadas, alvoroçadas, as palavras

Cada dia encontrando uma formação nova para me atormentar

As mais ousadas atravessam o fosso que construí ao redor da mente

E fazem suas danças macabras atrás dos meus ouvidos

Chamando-me para a guerra

As mais tímidas ficam na retaguarda

Só para o caso de eu tentar escapar

É um cerco diário, minha vida

O acampamento desorganizado que povoa a fronteira das minhas sinapses só cresce

E não me resta opção a não ser lutar

Pego minhas armas e abro o portão, mas elas me cercam

Normalmente eu perco e sou arrastada por seus ecos avassaladores

Mas às vezes as faço prisioneiras e transformo em versos

Para sempre dominadas por meu comando poético

Mas são tantas!

Não posso prender a todas

Não haveria poesia suficiente em toda a galáxia

Eu organizo, elas bagunçam

E às vezes a própria poesia sai bagunçada

Essas monstrinhas pisaram outra vez na bandeira branca

É divertida demais a guerra para assinarem acordo de paz

Sou poeta, ainda que me esconda irão sempre me achar

Ainda que não queira ouvir, sempre terão histórias pra me contar

Ainda que eu queira o silêncio, o cerco não vai abrandar