Donas de si

As letras saem de mim

Através de palavras já muito ditas

As sílabas fogem, sorrateiras

Talvez pela beira da fresta na janela

Elas se apartam, desapertando meu peito

Fugitivas, já no papel

Tentam dar nome àquelas coisas loucas

Aquelas, sem nome, por natureza

É inútil, claro

Então, as letras se reorganizam

Buscam resgatar ideias, reflexões perdidas

Dessas que chegam bem depressa

E vão embora mais depressa ainda

Numa outra configuração, essas letras, metidas

Procuram impressionar, não sei nem bem à quem

Então, de volta ao chão

As letras tentam avidamente, ser, apenas

E sendo, letras, fazem-se donas de si

Sobre o nomear, o recordar, o orgulhar

Elas exercem o papel nato, de quem pode ser o que quiser

Exatamente, o que quiser

Então, a incansável busca segue

As letras voltam pro peito desapertado

Pra saírem e brincarem, quando desejarem

O autor sorri

A Louca da Casa
Enviado por A Louca da Casa em 21/02/2016
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