Donas de si
As letras saem de mim
Através de palavras já muito ditas
As sílabas fogem, sorrateiras
Talvez pela beira da fresta na janela
Elas se apartam, desapertando meu peito
Fugitivas, já no papel
Tentam dar nome àquelas coisas loucas
Aquelas, sem nome, por natureza
É inútil, claro
Então, as letras se reorganizam
Buscam resgatar ideias, reflexões perdidas
Dessas que chegam bem depressa
E vão embora mais depressa ainda
Numa outra configuração, essas letras, metidas
Procuram impressionar, não sei nem bem à quem
Então, de volta ao chão
As letras tentam avidamente, ser, apenas
E sendo, letras, fazem-se donas de si
Sobre o nomear, o recordar, o orgulhar
Elas exercem o papel nato, de quem pode ser o que quiser
Exatamente, o que quiser
Então, a incansável busca segue
As letras voltam pro peito desapertado
Pra saírem e brincarem, quando desejarem
O autor sorri