Noitada
Diz-se do estado de poesia
Tenho estado com ela
De madrugada, em transe,
Transamos
Fazemos amor gostoso
Sem preliminares,
Lhe pego a palavra
Meto-a no verso, inverso
Ousamos muitas posições
A poesia me enlouquece na cama
Rolo com ela de um lado para o outro
Tenho tremores, calores, calafrios
Tudo ao mesmo tempo
Também a poesia vem por cima de mim
Quer-me cavando-lhe sulcos profundos
E delicia-se se lhe adentro enquanto
equita, intensamente, vocábulos como corcéis
Não se exaure
Gememos carnes e ais
Em picos de êxtase, pica a palavra
Insaciável deita-se por um minuto ao meu lado
Ainda resfolegando amiudada
Volta a poesia tomando meu corpo
Usurpa-me o sumo, lambendo-me com o verbo
Tocando-me trêmula, mas assertiva
E acerta meu gosto
E quer meu dê-leite
Até que depois da terceira ou quarta vez
De seu abuso
De minha carne
De nossos jogo atrozes
Rolamos para lados opostos
Desabitados de matéria
Em regozijo