Poetissignus
Poetissignus
"sob a pele das palavras há cifras e códigos" (Drummond)
Não há luz:
o corpo inerte
está na rede
e a mente levita
sobre ele
bruxuleante,
vaporosa
como um fogo-fátuo.
Esse é o momento em que gapuio
nas poças do rio seco
as melífluas palavras,
as cintilantes sílabas,
abertos oclusivos
sonoros molhados fonemas,
que se encarnam
em signos quase plausíveis.
Ao sonoro luar
tarrafeio camarões lexicais.
Não são graúdos,
contudo eu os maturo nos viveiros
à flor paradigmática
das chuvosas tardes,
nas encrespadas águas
barrentas... baças
como meus olhos já tão lassos.
É nas ociosas horas noturnas
que jogo meu anzol
nas frias águas.
Mas não possso selecionar
os peixes-signos,
pois estes
é que se fisgam
e fisgam-me o pensar,
que se funde à lama, às águas,
às aningas, siriúbas, sararás,
caramujos, bacuís, amurés...
surucuás, gaviões-pega-macaco...
Nuvens passeiam,
o sol dorme,
a lua acorda,
a viola chora...
o murucututu agoura...
Debulhar o açaí morfológico
ou amassar a abacaba semântica
indubitavelmente não é p a r a m i m
tarefa das mais gloriosas,
pois enraizam-se em mim
centenas de raízes de mangueiros,
entrecruzando-se como ideias
herméticas.
A canoa que chacoalha
na leve maresia é a mesma
que joga, embala-me sob
verde teto fosforescente
de folhas e frutos
sintagmáticos.
O corpo inerte
desperta.
E a mente?
Apenas reflete:
"Quão laboriosa tarefa é
a
(APENAS)
tentativa de poetar".