Semear em furta-côr
Sou a semente insurgente, despesa da vida, um grão
Da mesma ou informe casquinha ensaio esta vida só
E o teatro vivo do mundo deixa-me capenga em vão
Trôpega dama em flôr de cuja raiz cubra-me o lençol
Sou a tua alegria no jardim, inerte pelo inebriar solar
Mesma que num sorriso lastima de ser o último amôr
A um só tempo e desamôr antigo espero o concordar
Desse tratado solene de viver como senhora sem dôr
Casta e lúcida amante de cuja luz emite ondas azuis
De inclemente anil e ajuizado tom do celeste inverno
Seremos uma, e muitos outros raiar de estrelas senis
A esperar a juventude erigida em estátuas do eterno
Serei a senhora oculta e sendo estarei contigo a velar
O sem dormir entre estrelados patamares desta noite
Preciosa abertura de cílios lindos ou olhos no cravejar
Gemas reluzentes da esperança refletida num convite!
Mas irei a ti, cavalgada em delírio, madame celestina
Te darei um céu entre maravilhas que tempera doce
O meu alimento de alma ferve, recolhida e repentina
O tudo por você quer mesmo em tempestades fortes!