Esboço do Mar Morto
Não ide procurar nestes versos
Os doces morangos, verdade outra
Não busqueis efebo e inspirador bouquet
Nem ternura do viver neste ente.
Pois achareis somente a lente
Do periscópio sobre a convenção
E frio aroma de algo, só; somente.
Sabei que mostro na tempestade narrada
A moldura duma tranca sem chave,
Por onde, se estiverdes apto,
Olhai pela fechadura e vidai o amargo
Do agora e do inludível amanhã.
Vereis o amor sentido e não sentido
Falho ou o seu triste fim
Vereis o esforço e seu contrário
E triunfo? Sabeis que o mundo
Não é o mundo concertado.
Vereis a carne e a fraqueza
Em seu covarde e em fuga salto
Sobre as pontiagudas cercas do real
Vereis a hipocrisia e a incoerência
Do que nestes verso vos fala.
Vereis a insegurança
E o que há de mais pro-lixo
E no canto, na metalinguagem,
Vereis a fria e triste certeza
Da incerteza cardíaca destes versos.
Afastai-vos da tranca e ide,
Mesmo que o que vos recebe
Tenha a moradia maltratada
Ide e intercedei por sua alma
Mesmo que o tolo não saiba.