MIMO DE MENINA
Tenho um resto de menina
um fio de cabelo original
tecido no ventre da ascendência
tênue fio de esperança
teimoso, insistente,
capricho iminente.
Estranha persistência infante
no fundo d'alma, errante
crédula, resistente
como um cão que não desiste
de seu dono,
carente.
Não entendo, depois de tantos anos,
e dores, e partos,
e perdas, e partidas,
conservar um filete de infância
esquecer desse jeito
a falsidade humana.
Talvez eu seja a mesma, só que mais sofrida
calejada, nunca desiludida
de repente, tudo de novo,
aquele desejo,
ardente.
Lá no mundo
da mulher madura
ora se acende
um incenso de criança.
A menina em mim não morreu.
15.05.15