MIMO DE MENINA

Tenho um resto de menina

um fio de cabelo original

tecido no ventre da ascendência

tênue fio de esperança

teimoso, insistente,

capricho iminente.

Estranha persistência infante

no fundo d'alma, errante

crédula, resistente

como um cão que não desiste

de seu dono,

carente.

Não entendo, depois de tantos anos,

e dores, e partos,

e perdas, e partidas,

conservar um filete de infância

esquecer desse jeito

a falsidade humana.

Talvez eu seja a mesma, só que mais sofrida

calejada, nunca desiludida

de repente, tudo de novo,

aquele desejo,

ardente.

Lá no mundo

da mulher madura

ora se acende

um incenso de criança.

A menina em mim não morreu.

15.05.15

Cristina Lebre
Enviado por Cristina Lebre em 26/05/2015
Código do texto: T5256124
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