COMO O CORDEIRO DE DEUS, JESUS PARTICIPOU DA PÁSCOA DOS JUDEUS?

Pr. José Barbosa de Sena Neto

pastorbarbosaneto@gmail.com.br

“A festa da Páscoa começava no dia 15 de Nisã, sendo o cordeiro sacrificado na tarde do dia 14. Contudo o dia da semana variava com a lua nova. Se Jesus comeu a ceia regular da Páscoa, foi crucificado no dia 15 de Nisã. Se comeu uma ceia no dia anterior, e se foi crucificado na hora do sacrifício do cordeiro, então o dia foi, então, o dia 14 de Nisã. Neste caso ele não comeu, de fato, a Páscoa” (S.L.Watson e W.E.Ellen, Harmonia dos Evangelhos , CPB, 1964, 4ª edição, pp. 243-244).

Na histórica controvérsia havida nos primeiros séculos da era cristã entre gregos e latinos, estes defendiam a tese de que Jesus teria comido do cordeiro pascal, após o pôr do Sol do dia 14 de Nisã, de modo que Sua crucificação teria sido no dia 15, primeiro dia da festa da Páscoa. Os gregos, ao contrário, afirmaram que Jesus, que é a nossa Páscoa, não teria comido do cordeiro pascal, mas, na qualidade de verdadeiro Cordeiro Pascal, teria sido crucificado na hora costumeira do sacrifício do cordeiro. Vamos verificar com quem está com a razão.

A data da instituição da Ceia do Senhor depende diretamente da data de Sua crucificação. Se Ele tiver sido crucificado no dia 15 de Nisã, a Sua Ceia Pascal terá sido instituída nesse mesmo dia 15, após o pôr do Sol do dia 14 de Nisã, fora do contesto da Páscoa judaica.

Em João 18.28 lemos que, quando, de manhã, o julgamento de Jesus estava terminando (e Ele havia ceado na noite anterior!), os judeus ainda não tinham comido a páscoa: “Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa”. Em João 19.14-16 lemos que Jesus foi julgado no dia da “preparação da páscoa” (à hora sexta) – ao meio dia), isto é, no dia 14 de Nisã, antes do primeiro dia dos ázimos: “E era a parasceve pascal (a preparação da páscoa) e quase à hora sexta...”.

Tanto as grandes festas de Israel como o Dia da Expiação erma figuras proféticas de fatos referentes ao Messias e que, a exemplo das próprias festas, ocorriam “ao seu tempo determinado” (Lv. 23.4). Jesus havia predito que Sua morte se daria na Páscoa: “Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26.2). Na Páscoa, sim, mas antes da festa! “Depois os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo reuniram-se na sala do sumo sacerdote, o qual se chamava Caifás. E consultaram-se mutuamente parta prenderem Jesus com dolo e o matarem. Mas diziam: Não durante a festa, para que não haja alvoroço entre o povo” (Mt. 26.3-5). E assim O prenderam antes da festa, que começava com a ceia pascal. E essa decisão foi tomada a partir de uma profecia do sumo sacerdote Caifás (João 11.47-53).

A Páscoa como sacrifício do cordeiro, era o dia 14 de Nisã (“No mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é a páscoa do Senhor”. Lv. 23.5), mas a festa a que se chamava Festa da Páscoa começava no dia 15 de Nisã, com a ceia pascal. Jesus foi preso, julgado e executado na cruz antes da festa! Morreu na cruz no dia 14 de Nisã, na sexta-feira, ao crepúsculo da tarde, no momento profeticamente estabelecido na Lei para a morte do cordeiro pascal. Não há sombra de qualquer dúvida!

“No Gr secular, paraskeuè se acha no sentido geral de “preparação”, mas o NT emprega o substantivo paraskeuè sempre como expressão de tempo, para indicar o “dia da preparação” antes de Um Sábado ou Festa da Páscoa: Mt 27.62; Mc 15.42; João 1914, 31,42” (Colin Brown, Dicionário Internacional de Teologia do NT, Ed. Vida Nova, Vol. III, p. 784). Observe-se bem que a palavra paraskeuè significa preparação em sentido geral e em todos os textos do NT em que ela aparece refere-se sempre ao dia 14 de Nisã dia da “preparação da Páscoa”, dia em que era imolado o cordeiro, preparada a refeição, removido o fermento das casas, etc.

Nos anos em que o dia 14 de Nisã caia numa sexta-feira, com a ceia pascal caindo no Sábado – o qual quando uma dessas “santas convocações” coincidia com um sábado semanal, regular, dava-se-lhe o nome de “Sábado Grande”, dia de descanso legal, como é o caso do sábado posterior à crucificação de Jesus – aquela sexta-feira era tanto o dia da preparação da Páscoa (João 19.31) como véspera e preparação do sábado regular (Mc 15.42).

Que Jesus morreu numa sexta-feira ninguém questiona, pois o dia seguinte à Sua morte era sábado, conforme se lê em João: “...para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação, pois era grande o dia de sábado...” (João 19.31). Mas aquele não era um sábado comum, era um Sábado Grande. E sábado grande era aquele sábado semanal que coincidia com um dia de “santa convocação”. Ora, como no mês de Nisã as “santas convocações” aconteciam nos dias 15 e 21 (primeiro e oitavo dia da Páscoa), aquele sábado não podia ser o dia 16 de Nisã, que não era dia de “santa convocação”. Tinha de ser o dia 15 de Nisã, primeiro dia dos ázimos, primeiro dia da Festa da Páscoa, dia de “santa convocação”, dia da ceia pascal, da qual Jesus NÃO PÔDE PARTICIPAR, por haver, na qualidade de Cordeiro de Deus, sido imolado na véspera, 14 de Nisã, dia da preparação da Páscoa!

Não há como contestar: Jesus não participou da Páscoa legal dos judeus, porque Ele mesmo, o verdadeiro Cordeiro pascal (I Cor. 5.7), morreu no dia e hora profeticamente revelados nas prescrições da Páscoa: 14 de Nisã, ao crepúsculo da tarde! Sim, Jesus expirou na cruz no mesmo dia e hora em que no Templo se imolavam os cordeiros pascais, foi crucificado no dia que o cordeiro pascal era oferecido, e ressuscitou no dia em que as primícias da primeira colheita eram apresentadas, as primícias dos que dormem!

Na ocasião marcada para a ceia pascal, Jesus “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1.29) já estava no túmulo! A celebração da Páscoa judaica perdera a sua razão de ser! Os cordeiros pascais, figuras do Cordeiro de deus, já não deveriam ser imolados cada ano! A realidade que eles figuravam havia chegado! E, em chegando a realidade, os ritos legais, que têm somente “a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas” (Hb 10.1), haviam-se tornado antiquados, perdendo completamente o valor! “Porque Cristo, nossa páscoa, foi crucificado por nós”! (I Coríntios 5.7b) Que maravilha!

O Pregador do Sertão
Enviado por O Pregador do Sertão em 07/05/2008
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