Da Páscoa ao fim... Caminhamos...
Em que Deus será tudo em tudo (1 Corintios 15.28).*
Ressurreição, esta não ocorreu fora do tempo e do mundo, mas dentro deles. Toda frustração foi absorvida pela morte desse um: Jesus Cristo. Não há profundidade de desespero que não estivesse nele, que não pudesse ser lançada sobre ele, acarretando libertação. Na Páscoa celebramos a vitória da vida sobre a morte, da esperança sobre o desespero, da perseverança sobre a frustração, da liberdade sobre qualquer lei, do amor em relação à pré-condição...
Este dia é especial pelas coisas gostosas que saboreamos. Do reencontro na igreja, de pessoas que talvez não víssemos há dias... Do almoço em família, da visita a casa de tios e avós, dos chocolates saboreados, devorados. Dos jogos, sorrisos e sutis gestos de compartilhar, mistérios da celebração da vida.
Páscoa é isso: a celebração da vida. Em gestos simples vivenciamos o evento maior para a fé cristã, a ressurreição. Ao abraçarmo-nos sentimos o aconchego da felicidade, do consolo, da esperança. Ao sentarmo-nos a mesma mesa nos aproximamos, estamos em paz... Primos distantes, tios que não víamos há dias reencontramos... Páscoa é nos envolver, nos relacionar... É dia de perguntar se esta bem, de se interessar pelo outro, pelo bem do próximo.
A importância das confraternizações talvez esteja nisso, em lembrarmos-nos de como é bom sentar a mesa com alguém que se gosta, de sentirmos o carinho dos abraços, de sentirmos felicidade ao ver as crianças brincando, bagunçando e sorrindo. É um reencontro a coisas que no cotidiano de labuta esquecemos... É dia de se sentir saudade, pois talvez encontramo-nos sós, longe da família e dos amigos, ou estamos sozinhos em nossa fé, não fé, ideologia, é dia de nos reafirmarmos, de refletirmos, respirarmos.
Desde crianças aprendemos o movimento do perder e do encontrar, choramos quando não vemos a face da mãe, ao reencontrá-la acalmamos... E assim vamos crescendo, perdendo brinquedos, amigos, professores, e somos compensados com novas formas de brincar, de ser amigo, de aprender... É um movimento que dura toda uma vida.
Porém alguns se deparam com situações que ferem a dignidade humana. Em que não encontram mais estas novas formas e possibilidades, e demoram muito a encontrarem novas fontes de luz, estabelece assim o desespero... Estas situações nem sempre são geradas somente pelas circunstâncias da vida, ocasiões esporádicas. Estabelecem-se poderes e sistemas que não dão margem a participação e criatividade do homem, vendo-se este fora das compensações da vida. Assim, não só sobre vidas particulares a desesperança pode ocorrer, mas para todo um povo e coletividade.
Por isso, para os cristãos é uma preparação para a caminhada... A ressurreição ainda não é o fim, pois continuamos a viver no mundo e é neste que devemos nos inserir, a ressurreição nos direciona para lembrar daquilo que Cristo assumiu na cruz e irmos andando, assumindo a desesperança do oprimidos, semeando esperança vitoriosa e libertadora, fazendo a luz brilhar nas trevas.
Entre a Páscoa e o fim caminhamos, lutamos... A caminhada é no mundo, com as pessoas, não estamos sós, é no próximo que vamos semeando a ressurreição... Transformando, pois esperanças mortas são fontes de desespero. Se estas não forem reconstruídas, regadas por fontes de luz podem ser o principal elemento para a resignação, para a amargura, para gestos de ódio e rancor...
O ministério cristão tem essa função, de ir reconciliando, fazendo encontrar o perdido a fonte da vida, reconciliar o desesperado a lucidez, aí se rompem cadeias, aí os poderes são vencidos, aí a luz brilha nas trevas.
“Esperança é o oposto de otimismo. Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora,continuam as fontes a borbulhar dentro do coração. (…) A esperança se alimenta de pequenas coisas. Basta-lhe um morango à beira do abismo.” Rubem Alves.
*tradução própria