A perfeição no enfoque de Cristo - Nos tornando filhos de Deus

Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2004

Texto bíblico: Mateus 5:43 a 6:15

Introdução

A vida de Jesus na terra foi surpreendente para os que creram e os que não creram nele. Diante de Jesus todo o saber, religiosidade, possibilidades, pensamentos, intenções perdiam o significado, pois ele viera para libertar o homem da escravidão do cotidiano e reatá-lo ao Pai inserindo-o no seu reino. Para fazer isto Jesus teve de abordar aspectos das práticas dos homens e reeducá-los nas práticas perfeitas para que tivessem condições de serem aceitos pelo Pai. Uma destas ocasiões foi quando ele mostrou que a teologia e a forma como praticavam a religião eram insuficientes para que o homem conhecesse a Deus, o Pai.

Jesus exige uma revolução nos sentimentos: amar e orar pelos inimigos

A perfeição no enfoque de Jesus passa por amar e orar pelo próximo, amigo ou inimigo. Não é comum vermos alguém fazendo isto, ou seja, orando pelos inimigos. Contudo, Jesus deixou claro qual a condição para sermos perfeitos “Orai pelos que vos perseguem”, Mateus 5:44-b.

Em Mateus 5:45, Jesus continua dizendo porque devemos orar pelos que nos perseguem: “Para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos”.

Agora Jesus acrescenta mais uma condição àquela apresentada por João, em João 1:12 que diz “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber aos que crêem no seu nome”. Para nos tornamos filhos de Deus devemos, além disto, amar e orar pelos inimigos. Esta nova condição parece ser difícil de nos adequarmos pois se mostra revolucionária dos sentimentos. Portanto, a condição que Jesus exige para nos tornamos filhos de Deus, além de crermos em seu nome, é experimentarmos uma completa revolução em nossos sentimentos.

Jesus tinha consciência do quanto era revolucionária para os homens esta nova atitude. Ele continua nos seus ensinamentos, nos mostrando qual é o estado natural de uma pessoa que, aliás, não é suficiente para ser identificada como filha de Deus: “Porque se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?”, Mateus 5:46.

Ou seja, o que Jesus exige é um pouco mais do natural do ser humano sem Deus. Jesus exige uma revolução nos sentimentos.

A perfeição diante de Deus, portanto, só é possível quando nos tornamos filhos de Deus, e para tal temos de crer em Jesus e amarmos e orarmos pelos nossos inimigos.

Esta é a mensagem revolucionária de Cristo.

Jesus exige uma revolução nas ações: uma nova maneira de praticar as boas obras

Uma característica comum e, diria, até legítima do homem é mostrar para os próximos as suas boas práticas e ocultar, o quanto possível, as más. Contudo, Jesus, que dissera que para sermos perfeitos deveríamos experimentar uma revolução nos nossos sentimentos orando e amando o inimigo (Mateus 5:44), agora nos ensina como devemos, além daquilo, praticar o amor de forma também revolucionária: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai celeste”, Mateus 6:1.

Não devemos parecer justos ao executarmos as nossas boas ações diante dos homens com o propósito de sermos reconhecidos por eles, pois desta forma este reconhecimento já seria o próprio galardão. Jesus diz que devemos fazer as boas ações em secreto para que tenhamos o reconhecimento, não do homem, mas de Deus, nosso Pai. Mateus 6:4.

O outro aspecto da prática do amor, ensinado por Jesus, é dar sem esperar receber: “Tu, porém ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita”, Mateus 6: 3.

Portanto a prática do amor que nos torna filhos de Deus é: 1) Praticarmos o amor sem propaganda e 2) darmos sem esperar receber de volta.

Isto, de fato, é revolucionário e completamente diferente da prática comum do homem, ainda hoje.

Uma nova maneira de orar

A segunda coisa que Jesus diz ser necessária para nos tornamos filhos de Deus, como já foi mencionado, é orarmos pelo inimigo. Como fazer isto se esta prática era novidade para todos? Jesus porém nos ensina:

“E quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu porém, quando orares, entra no teu quarto, e, fachada a porta, orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais”, Mateus 6:5-8.

Nossa oração não deve ser baseada em belas palavras, em textos decorados ou criados por outras pessoas[1], e em demonstração de eloqüência para que os outros observem o quanto somos sábios e sabemos articular nossas idéias. Era comum nas orações da época serem expostas todas as boas práticas do orador, contudo Jesus nos ensina como devemos nos portar para a oração e o que devemos pedir a Deus nosso Pai. Devemos sair do canto das praças, das sinagogas e nos recolhermos para o nosso quarto, fecharmos a porta e orarmos a Deus que está em secreto.

Como tudo isto era novo, Jesus, além de ensinar aos doutores de teologia da época a nova condição para orar, ensinou como deveria ser a estrutura da oração que agradava ao Pai. Realmente isto é surpreendente, pois o próprio Deus, em forma de pessoa, nos ensina como devemos nos comunicar com ele.

O que orar? Não devemos repetir vãs palavras decoradas, porque não será pelas muitas palavras que Deus, o Pai, irá nos ouvir, conforme nos ensina Jesus em Mateus 6:7. Por que Deus, o nosso Pai, conhece as nossas necessidades. Mateus 6:8.

A oração do Pai Nosso

Jesus ensina, portanto, como orar ao Pai, Mateus 6:9-15.

“Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o seu nome”, v. 9.

Devemos iniciar a oração reconhecendo o poderio e santidade eterna de nosso Pai, e desta forma nos posicionar em situação de humildade diante dele.

“Venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”, v.10.

Reafirmamos ao Pai que estamos prontos para fazermos partes do seu reino e nos colocarmos na completa vontade do seu querer, para sempre, tanto nesta vida (terra) quanto na eternidade (céus). É uma expressão de louvor e exaltação ao Pai.

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”, v.11.

Pedimos o alimento para cada dia. O pão resume o absolutamente necessário para o sustento nosso e da nossa família. Também o pão pode resumir a força, inteligência e ações que precisamos para conquistarmos o necessário para sobrevivermos saudáveis.

“e perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”, v.12.

Dívida, aqui, expressa pecados, falhas etc., Pressupõe que antes de pedirmos perdão ao nosso Pai, já devemos ter perdoado a todos aqueles que pecaram contra nós. Todos os que nos aborreceram, inclusive os nossos inimigos. Enfim, não devemos ter pendências de perdão com ninguém. Somente assim o nosso Pai irá nos perdoar. Veja Mateus 6:14.

“e não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal” v.13a.

Uma vez com os nossos pecados perdoados e sem dívidas de perdão devemos, então, recorrer ao socorro do Pai para que nos livre das tentações e dos males do cotidiano. Quantas tentações passamos no trabalho, na rua, na escola! Estamos expostos continuamente ao apelo da corrupção, da mentira, da falsidade, do adultério, da idolatria do mundo. Somente em comunhão com o Pai conseguimos, com a sua ajuda, vencer diariamente estas tentações e o mal que nos pressiona a cada momento.

“... pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém” v.13.

Jesus nos ensina que devemos finalizar a nossa oração reconhecendo o poder do Pai e glorificando-o para sempre.

Conclusão

Para nos tornarmos perfeitos e filhos de Deus devemos experimentar uma revolução nos sentimentos; amando e orando pelo inimigo, e nas ações; doando e orando em oculto sem esperar reconhecimento dos homens e retorno das boas ações.

Isto somente é possível se nascermos de novo, conforme Jesus ensinou a Nicodemos “A isto respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”, João 3:3.

Resumindo

Para sermos perfeitos e filhos de Deus devemos: (Mateus 5:44)

Receber e crer em Jesus, João 1:12.

Amar o próximo (amigo e inimigo).

Orar por todos (amigos, inimigos e aqueles que nos perseguem).

Como devemos amar (Mateus 6:1-4)

Fazendo boas ações, em segredo.

Dando sem esperar receber de volta.

Como devemos orar (Mateus 6:5-15)

Em oculto e sem palavras decoradas.

Reconhecendo o poder e santidade do Pai (v.9).

Aceitando o reino do Pai em nossa vida e fazendo a sua vontade (v.10).

Pedindo ao Pai o pão de cada dia (v.11).

Não tendo pendências de perdão com o próximo para sermos perdoados pelo Pai (v.12).

Pedir ao Pai que nos livre das tentações do cotidiano para vivermos em integridade (v.13a).

Finalizar a oração reconhecendo o poder do Pai e o louvando por isso (v.13b).

[1] É aceitável, quando no momento da decisão, pedir ao novo crente que repita as palavras de oração ditas pelo pregador. A partir daí o novo crente deve ser orientado a, ele próprio, pedir ao Pai o que necessita.