Uma questão de fé

19 de Dezembro 2006

Texto bíblico:

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem. Porque por ela os antigos alcançaram bom testemunho. Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê”.

“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. (Hebreus 11.1-3,6).

Introdução

A fé é um assunto longo. Poderíamos escrever sobre a fé com tantas abordagens diferentes. Na verdade este assunto merece ser debatido longamente, contudo, resolvi escrever abordando uma vertente um pouco diferente daquelas que vemos nos livros. Acho que voltarei a escrever sobre isto em outros momentos.

A fé é o preâmbulo do ser, do existir, do acontecer. A fé, portanto, antecede ao agir e ao acontecer. Mas o que antecede e o que é preâmbulo de algo, necessariamente tem a característica, o cerne e o embrião daquilo a que antecede. Portanto podemos sugerir que a fé representa em algum nível, aquilo que ela antecede. A fé é necessariamente um fenômeno mental e dependente do homem, ou seja, acontece no homem e para o homem. Não existe em si mesma. Não pode ser encontrada, descrita e explicada isoladamente e independente do homem. Portanto parece legítimo e não patético o exercício da fé pelo homem. O exercício da fé pode ser, de alguma forma, comparado a um projeto mental daquilo que se deseja. Com isto suponho que um pressuposto para se ter alguma coisa que se deseje é antes projetá-la na mente através do exercício da fé.

Concepção da fé

Um arquiteto antes de iniciar a construção de uma obra, a projeta em sucessivas atualizações em uma planta, que é um modelo esquemático mínimo o suficiente para permitir-lhe visualizar a obra como se estivesse pronta.

Na primeira fase do projeto o arquiteto pensa no que deseja. Neste momento ele começa a acomodar em sua mente o que deseja. A medida em que vai exercitando, desta maneira, a sua obra, ela vai tomando forma bem definida em sua imaginação. Neste momento ele não precisa e nem quer saber como irá construir a sua obra, mas deseja somente amadurecer o que fazer.

Acredito que a fé pode ser satisfatoriamente explicada com este exemplo. No primeiro momento precisamos apenas amadurecer o que queremos ou necessitamos. Fazemos isto visualizando mentalmente aquilo que queremos. Da mesma forma como acontece com um projeto de arquitetura, conforme descrito anteriormente, se possível devemos desenhar em um papel o que queremos. Caso o desenho não se aplique devemos pelo menos escrever em uma lista aquilo que necessitamos. Neste momento não precisamos preocupar-nos em saber como o milagre será realizado. Precisamos saber qual o milagre que precisamos..

Traduzindo isto para a prática cristã, devemos apresentar a Deus em oração, o desenho, o esquema, a listagem ou o texto da “benção” que procuramos receber. Talvez seja uma boa prática compartilhar com um irmão de fé este projeto e orar juntos sobre esta benção.

Abraão, um modelo de fé

Encontramos na Bíblia indicações de que o método descrito acima foi utilizado por Deus quando fez promessas a Abrão (Gênesis 12) sobre a sua descendência. Ali Deus parece ter querido projetar na mente de Abrão uma imagem representativa e simbólica do que seria a sua descendência. Eu diria que Deus estava esboçando na mente de Abrão, por meio de símbolos, como faz um projetista, a sua descendência.

Em outra ocasião Deus mandou que Abraão contasse as estrelas do Céu. Acredito que Abraão tivesse levantado a sua cabeça e olhado para a imensidão celeste e, de fato, iniciado uma longa e enfadonha contagem. Talvez tenha se cansado e se perdido na contagem inúmeras vezes. Numa destas situações, ele, talvez, tenha desanimado e sentado na areia da praia para recomeçar a contagem. Deus, então, mandou que ele não mais contasse as estrelas, mas agora contasse os grãos de areia da praia. Na verdade, tanto uma coisa como a outra eram incontáveis, no entanto Deus queria que ele exercitasse a fé e desta forma fosse construindo em sua mente a dimensão incontável da sua geração, ou seja, projetando o que seria de fato a benção que Deus estava por lhe dar. Finalmente Deus projetou na mente de Abraão a verdadeira (mesmo que simbólica) dimensão da promessa quando disse para ele que a sua descendência seria tão incontável como são incontáveis as estrelas do céu e os grãos de areia do mar (Gênesis 27.4). Vemos que, como a própria Bíblia diz, Abraão foi um dos heróis da fé (Hebreus 11.8-12).

O fim da fé, a concretização da benção

Uma vez que a imagem e o projeto da benção estejam bem acomodados em nossa mente e uma versão definitiva do esboço já esteja consagrado e homologado por Deus, ou seja, pelo próprio patrocinador da benção, precisamos então agir. Chegou a hora da ação e agora entra em questão o como fazer.

É natural que a medida em que novas versões do esboço da benção vão se substituindo em nossa mente começam a afluir as soluções de como a coisa irá acontecer. A dimensão da benção começa a tornar-se mais evidente. Começamos nos ver como partes da benção e vislumbrar como devemos fazer as coisas acontecerem. Já sabemos claramente o que queremos. Já temos a autorização de Deus para agir, pois já lhe apresentamos o projeto em oração. Agora podemos orar assim: “Senhor providencie os meios”. Pedimos ao patrocinador que assine o projeto e libere os meios. É a hora da ação. O arquiteto neste estágio já tem uma lista do que necessita para construir a obra.

Devemos insistir em oração com Deus e pronunciarmos detalhadamente o que precisamos, item a item. As vezes sabemos que não temos condições materiais para realizarmos aquele projeto. Somente Deus pode nos ajudar. Agora já sabemos exatamente o que queremos e, portanto, podemos pedir a ajuda específica de Deus.

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam”

Como escrevi acima, a fé precede a realização daquilo que esperamos. Interessante notar, entretanto, que antes de termos a fé, precisamos ter alguma coisa a esperar. Ou seja, a fé passa a ser o suporte, o sustentáculo ou a base para o que esperamos. Uma vez definido com clareza o que queremos ou o que esperamos, precisamos acreditar confiantemente naquilo que esperamos. Isto significa que o que esperamos tem de ser legítimo, necessário e honesto.

A nossa salvação foi anunciada por Jesus Cristo (João 3.16). É algo para realizar-se no futuro, portanto impossível tê-la sem que a esperemos ardentemente. É uma excelente razão para a nossa fé. A Salvação é dada por Deus, mas alcançada por nós por meio de Jesus Cristo. Precisamos ter fé para a alcançarmos.

As coisas de Deus são invisíveis para nós. Deus também é invisível, portanto somente por meio da fé é que podemos viver esta verdade. “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11.6).

Percebamos que a fé não “fabrica os desejos ou as necessidades”, mas ao contrário, os desejos e necessidades é que dependem da fé para serem alcançados.

O “firme fundamento das coisas que se esperam” sugere que nem todas as coisas são candidatas a serem conseguidos por meio da fé. Somente aquelas coisas que necessitam ter o seu fundamento na fé é que poderão ser alcançadas por meio dela.

De onde vem a fé salvadora?

Como vimos acima, a fé se realiza no homem. Como então podemos praticar esta fé? De onde vem a fé que necessitamos para alcançarmos as coisas legítimas? “A fé vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Cristo” (Romanos 10.17). A fé que necessitamos não se origina de treinamentos psicológicos ou auto-afirmação. A fé que precisamos necessita ser o fundamento de algo legítimo de fé, de algo que não seja possível alcançar pelos nossos próprios meios e esforços:

“Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? assim como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos deram ouvidos ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem? Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (grifo do autor) (Romanos 10.13-17).

Somente ouvindo as promessas de salvação é que percebemos a possibilidade de tê-la. A fé salvadora é a mais importante fé: “Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus” (Romanos 5.1,2).

O capítulo 10 da carta de Paulo aos Romanos é bem conclusiva e convincente quanto a fé salvadora em Cristo Jesus: “Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Romanos 10.9).

Vemos nos evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) Jesus operando milagres de curas utilizando a fé do próprio abençoado. Esta fé certamente desenvolvera-se nos moldes como foi descrito acima. A pessoa de tanto ouvir falar de que Jesus curava, desenvolvera um intenso desejo (legítimo) de também alcançar a cura. Depois de ouvir tantos relatos de curas, ela não teria dúvidas de que também, caso estivesse com Jesus, seria curada. Ou seja, ela tinha de ter ouvido falar de Jesus. Jesus admirava-se com a intensidade da fé dos abençoados por ele: “Jesus, ouvindo isso, admirou-se, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que a ninguém encontrei em Israel com tamanha fé” (Mateus 8.10).

Em outro caso, a fé de uma mulher que tinha uma hemorragia era tanta que Jesus fez questão de dizer isto: “porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar-lhe o manto, ficarei sã. Mas Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E desde aquela hora a mulher ficou sã” (Mateus 9.21,22).

Quanto mais falarmos de Jesus, mais pessoas poderão alcançar a fé da salvação.

Sem fé é impossível agradar a Deus

Enfim, para aproximarmos de Deus é necessários acreditarmos que ele exista (Hebreus 11.6).

A fé é um ato maravilhoso que acontece no ser humano. Ela dispensa as proposições e conexões lógicas e tautológicas. É uma outra dimensão de vida, de pensamento e de ação. Para alcançarmos a benção, fruto de nossa fé, não precisamos entender como esta benção é construída. Não necessitamos entender todos detalhes dos mistérios divinos para nos beneficiarmos das benções divinas.

Não precisamos saber como o Sol é composto, qual a sua dimensão exata, qual a sua idade e por que ele está lá, para nos beneficiarmos dos seus raios.

As benções de Deus estão aí para nos alcançar. Jesus Cristo foi aquele que trouxe estas bênçãos ao nosso alcance. Tenhamos fé nele e gozemos destes benefícios.

“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6).

Ter fé em Deus é bom e agradável. Além de todos os benefícios ainda somos recompensados por Deus, como nos diz o escritor de Hebreus no texto acima.

Davi também sabia dos benefícios de adorar a Deus e escreveu este salmo: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios. É ele quem perdoa todas as tuas iniqüidades, quem sara todas as tuas enfermidades, quem redime a tua vida da cova, quem te coroa de benignidade e de misericórdia, quem te supre de todo o bem, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia. O Senhor executa atos de justiça, e juízo a favor de todos os oprimidos” (Salmos 103.1-6).

“Que darei eu ao Senhor por todos os benefícios que me tem feito?” (Salmos 116.12). O que daremos ao Senhor por todos os benefícios que ele nos tem feito? A alegria da salvação, que é o maior dos benefícios, é também a maior das alegrias que temos. Sabemos sim, o que daremos ao Senhor pelos benefícios! Daremos o nosso tempo e o nosso empenho em trabalharmos para o seu Reino aqui na Terra. Como faremos isto? Colocando-nos a disposição dele, voluntariamente, para levarmos o evangelho de Jesus Cristos aqueles que precisam ouvir a sua palavra, para que sejam alcançados pela Fé Salvadora.

Devemos relembrar diariamente que fomos salvos por Deus por intermédio de Jesus Cristo e por meio da fé.

Agora, depois deste longo debate sobre a fé, vamos memorizar:

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem” (Hebreus 11.1).