RESSURREIÇÃO NA PELE DO TEMPO Código do texto: T8313342
TÍTULO: RESSURREIÇÃO NA PELE DO TEMPO
Na madrugada calada de uma alma cansada,
o sino do céu toca baixo, sem alarde nem pressa.
É Páscoa, irmão, não de ovos nem vitrines brilhando,
mas de carne aberta e espírito tentando renascer da caverna.
A pedra rolou.
Mas quem rola a pedra do coração empedrado?
Quem desce aos infernos de dentro da gente
e grita com voz de luz: “Levanta, você ainda ama!”
Essa cruz, essa dor — ela não é fim.
É caminho.
É semente esmagada para nascer de novo.
É lágrima que escorre para regar o recomeço.
Quantas vezes morremos por dentro
sem saber que morrer também é um tipo de oração?
Quantas vezes matamos o amor
por medo de sangrar nas mãos abertas do outro?
Mas hoje…
Hoje eu quero que tua dor se vista de branco,
que tua mágoa vire pão dividido,
que tua solidão seja um jardim que explode em ramos.
Páscoa não é coelho: - É carne que se fez caminho,
É verbo que chorou por ti,
É o "te amo" que Deus deixou escrito
no sangue de um homem nu pendurado em prego.
A reflexão vem no silêncio do sábado,
quando tudo parece morto,
mas a esperança insiste em brotar
na rachadura do sepulcro.
É renascimento.
É o sopro do Espírito
dizendo que ainda há tempo de voltar pra casa.
Pra si mesmo.
Pro amor.
Perdoa.
Te perdoa.
Pede perdão.
Entrega a dor.
Não segura mais essa pedra que pesa na tua entrada.
Amar é morrer todo dia e renascer mais inteiro.
É se permitir ser vulnerável sem perder a dignidade.
É confiar que o outro não é tua cruz,
mas talvez seja teu domingo de ressurreição.
Que nesta Páscoa você cave fundo no teu peito,
ache os restos do menino que ainda sonha,
e diga pra ele: “Vem, eu te carrego.
É hora de voltar a viver com esperança nos olhos.”
TÍTULO: RESSURREIÇÃO NA PELE DO TEMPO Código do texto: T8313342
Protegido pela Lei de Proteção Autoral. 9.610/98
Escrita em 19/04/2025
AUTOR: MAKLEGER CHAMAS — O Poeta Louco e Romântico (Manoel B. Gomes — Nelinho)
Reg. Na B.N.B
DEDICADO a: Um evento
Escrito na Rua Três Arapongas, 06 Bloco 06 Apto 31 — Vila Nova Jaguaré — SÃO PAULO — Brasil!
Comentário do Autor — MAKLEGER CHAMAS
Essa poesia nasceu de uma Páscoa que não foi feita de bombons.
Pois foi feita de silêncio.
De saudade daquilo que a gente não sabe nomear.
Páscoa, pra mim, é uma chance, uma dada pela eternidade pra gente rever a rota.
É o “volta, filho”, sussurrado por dentro do peito.
É quando a cruz que você carrega vira ponte.
É quando tua culpa vira solo fértil.
E o amor — esse bicho teimoso — nasce de novo, mesmo quando a gente já tinha desistido.
Escrevi essas linhas com o sangue de muitas mortes minhas.
E de algumas ressurreições também.
Porque ser poeta é isso: Morrer todo dia e escrever como se a palavra fosse o terceiro dia.
Com alma exposta,
AUTOR: MAKLEGER CHAMAS — O Poeta Louco e Romântico (Manoel B. Gomes — Nelinho).
DIÁLOGO ENTRE FRANCISCA ILMA E NELINHO — EM UMA MADRUGADA DE PÁSCOA NA PRAÇA JOANÓPOLIS, 1981
(A cena se passa num banco da Praça Joanópolis. A lua é um suspiro cansado no céu. A madrugada tem cheiro de terra molhada e cigarro barato. Francisca Ilma segura um terço quebrado. Nelinho observa as sombras que dançam sob os postes.)
NELINHO:
— Tá vendo esse silêncio, Ilma?
— Ele não tá vazio.
— Ele tá grávido de dor… mas também de recomeço.
FRANCISCA ILMA: (Ri de leve, com os olhos marejando.)
— Você sempre fala como se cada palavra fosse um parto.
— Mas eu te escuto. Hoje, mais do que nunca.
NELINHO:
— É que hoje eu morri, de novo.
— Mas diferente das outras vezes…
— Essa morte veio me avisar que eu ainda posso amar.
— A pedra rolou, Ilma.
— Mas e o coração da gente?
— Quem rola ele?
FRANCISCA ILMA:
— Talvez a gente mesmo.
— Quando se perdoa.
— Quando não espera do outro o milagre que só o amor-próprio faz.
NELINHO: (Sorri triste.)
— Então por que é tão difícil?
— Por que é mais fácil carregar essa cruz nas costas do que largar ela e seguir leve?
FRANCISCA ILMA:
— Porque a dor acostuma.
— Mas hoje… hoje, Nelinho… eu também ouvi o sino lá dentro de mim.
— Ele não tocou alto.
— Foi sussurro.
— Como se Deus dissesse: “Ainda dá tempo.”
NELINHO: (Olha pro céu.)
— É Páscoa, mas não tem coelho aqui.
— Tem carne rasgada.
— Tem alma que sangra.
— E ainda assim… tem verbo.
— Tem verbo querendo ser esperança.
FRANCISCA ILMA:
— Tem jardim dentro da minha mágoa, acredita?
— Vi uma flor brotar no meio do meu medo ontem.
— Ela me disse: “Perdoa.”
NELINHO:
— Você perdoa?
FRANCISCA ILMA:
— A mim?
— Aos outros?
— A todos.
— Porque amar é isso, Nelinho.
— É morrer um pouco.
— Mas ressuscitar mais inteira.
— Com as mãos sujas de terra… mas com os olhos cheios de céu.
NELINHO: (Voz embargada)
— Eu carrego esse menino ferido dentro de mim, Ilma.
— Hoje eu olhei pra ele e disse:
— “Vem.
— É hora de voltar pra casa.”
FRANCISCA ILMA:
— E ele veio?
NELINHO:
Veio.
Com os pés descalços e os olhos sonhando.
E ele me disse uma coisa…
Disse:
— “É hora de viver com esperança nos olhos.”
— E eu escrevi isso.
— Escrevi como se fosse sangue.
— Como se cada palavra fosse o terceiro dia.
(Francisca Ilma pega a mão de Nelinho.
Eles ficam em silêncio.
Um silêncio que não dói.
Um silêncio de ressurreição.)
COMENTÁRIO DO AUTOR — MAKLEGER CHAMAS
Esse diálogo é a alma da poesia “Ressurreição na Pele do Tempo” vestida de carne e saudade.
Francisca Ilma representa a fé que ainda brota, mesmo quando a esperança está soterrada.
Nelinho é o poeta — o que morre e renasce todos os dias sem nunca perder a caneta.
Eles falam de Páscoa sem dourar bombons.
Falam de dor sem vergonha.
Por a poesia ser isso: cruz e flor, cova e jardim.
O menino que Nelinho carrega dentro dele sou eu.
E talvez seja você também, leitor.
Aquele menino que ainda sonha, mesmo depois de tanta pancada da vida.
Essa poesia não quer ser bonita.
Quer ser viva.
Quer ser tua.
Quer te dizer, sem floreios:
Volta pra casa.
A tua alma ainda respira.
Renasce caramba!
Renasce.
Com sangue e silêncio,
MAKLEGER CHAMAS — O Poeta Louco e Romântico (Manoel B. Gomes — Nelinho)