Os sete pecados da nova Torre de Babel

Num tempo em que a humanidade constrói arranha-céus que beijam o céu e chips que pensam por ela, uma nova torre de Babel se ergue — não feita de tijolos, mas de vaidades, algoritmos e ambições desmedidas. Seus andares são forjados nos laboratórios da ganância, e seus elevadores não sobem para Deus, mas descem ao porão da consciência.

No primeiro andar, mora o manipulador de genes, que brinca de Criador como uma criança que desmonta o relógio do tempo. Ele esqueceu que cada fio de DNA carrega segredos ancestrais, como se Deus tivesse bordado a alma com agulha invisível. Mas o homem quis ajustar o bordado — não por compaixão, mas por lucro, vaidade ou medo da imperfeição.

Subindo, encontramos o alquimista moderno: mistura pós e líquidos, buscando o êxtase sintético e a fuga instantânea. São drogas que anestesiam o grito da alma, vendidas como alívio, mas que se tornam algemas douradas, correntes químicas que aprisionam gerações.

No terceiro andar, as cortinas pesadas escondem o tribunal da injustiça social. Ali, os ricos escrevem as regras com caneta de ouro, enquanto os pobres assinam com sangue. Há fartura sobre a mesa de alguns e escassez nos pratos de muitos. O pão que sobra em um bairro nunca chega ao estômago que geme em outro.

No quarto, está o cofre da riqueza excessiva — onde o dinheiro não serve mais para comprar o pão, mas para engordar o ego. Quem ali habita, conta lucros, mas não conta lágrimas. Tem tudo, menos tempo; acumula bens, mas perde a bondade.

No quinto, ergue-se a fábrica de pobreza: ali, os senhores das decisões apertam botões que demitem, terceirizam, excluem. Transformam pessoas em números, e números em metas. Criam desespero em série, como se o sofrimento tivesse linha de produção.

No sexto, o laboratório da violação bioética — onde a vida é reduzida a cálculo e estatística. Ali, o embrião é apenas célula, o velho é custo, o deficiente é dado. A ciência avança, mas a alma retrocede. O saber cresce, mas a sabedoria murcha.

E no último andar, está o espelho. O mais cruel de todos. Porque é ali que cada um vê a si mesmo. E percebe que esses novos pecados capitais não nasceram sozinhos. Eles foram alimentados, tolerados e muitas vezes aplaudidos — não apenas por grandes vilões, mas por pequenas omissões cotidianas.

A nova torre de Babel não cairá por intervenção divina, mas por desmoronamento ético. E talvez só então o homem, em meio aos escombros, olhe para o céu — não para desafiá-lo, mas para pedir perdão.

Rudney Koppe
Enviado por Rudney Koppe em 16/04/2025
Código do texto: T8311020
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.