A queda de Jezabel

Em um reino envolto em trevas, onde a luz da justiça mal conseguia penetrar, Jezabel reinava com punho de ferro e coração de pedra. Seus olhos, frios como a noite sem estrelas, refletiam a maldade que pulsava em suas veias. Seu nome era sussurrado com medo pelos corredores do palácio, e até os mais corajosos tremiam diante de sua presença.

Não bastasse sua devoção às trevas, Jezabel era também uma ladra voraz. Com astúcia e crueldade, ela se apropriava das terras dos pobres, arrancando deles até mesmo a herança sagrada de seus pais. Nenhum clamor a comovia, nenhum pedido a demovia de seu desejo insaciável por poder e riquezas. Foi assim que Nabote, um homem justo e temente a Deus, caiu em suas garras.

Nabote possuía uma vinha herdada de seus ancestrais, um pedaço de terra que carregava a memória de gerações. Mas Jezabel, insaciável, cobiçou a vinha para seu marido, o fraco e manipulável rei Acabe. Quando Nabote recusou-se a vendê-la, ela urdiu um plano perverso. Em um ato de pura covardia, falsos testemunhos foram pagos para acusá-lo de blasfêmia, e ele foi condenado à morte por apedrejamento. Seu sangue clamava da terra, mas Jezabel apenas sorriu ao tomar posse da vinha, sem imaginar que a justiça de Deus já se movia contra ela.

O profeta Elias, um homem íntegro e fiel ao Altíssimo, ergueu-se contra a rainha. Com olhos ardendo de indignação, proclamou diante de Israel:

"Assim diz o Senhor: os cães devorarão Jezabel junto ao muro de Jezreel! Seu corpo será espalhado como esterco sobre a terra!"

Mas Jezabel riu. Seu riso era um escárnio, um desafio às palavras do profeta. Para ela, sua bruxaria e suas alianças demoníacas a tornavam invencível. O tempo, no entanto, não perdoa, e os dias de sua tirania estavam contados.

Então veio o dia fatídico.

O céu se tingiu de vermelho ao anoitecer, como se a própria terra sangrasse em antecipação à sua queda. Jezabel, envolta em suas vestes reais, adornada como uma deusa pagã, pintou os olhos e se postou em sua sacada. Sua expressão era de desprezo ao ver Jeú, o guerreiro ungido por Deus, aproximar-se do palácio. Mas sua arrogância não a salvaria.

"Quem está comigo?" — bradou Jeú.

E os próprios servos da rainha responderam. Aqueles que por anos suportaram sua tirania não hesitaram. Mãos que um dia a serviram agora a agarraram com desdém e a lançaram do alto da torre. Seu corpo espatifou-se contra o chão de pedra com um estalo grotesco, e seu sangue salpicou os muros de Jezreel.

Mas a sentença ainda não estava completa.

Dos becos escuros, das sombras das ruas, os cães surgiram. Seus olhos brilhavam na penumbra, e suas presas reluziam, ávidas pelo banquete amaldiçoado. Jezabel, que por anos ceifara vidas e espalhara terror, agora era nada além de carne para as feras. Elas dilaceraram seu corpo, arrancaram-lhe a carne, roeram-lhe os ossos até que nada restasse além de sua cabeça, suas mãos e um punhado de ossos esquecidos na poeira.

A profecia se cumpriu. O vento varreu seus restos, e a terra que um dia ela encharcou com sangue inocente agora cuspia seus ossos sem piedade. Seu nome, antes temido, tornou-se sinônimo de maldição. Um aviso eterno de que o juízo divino sempre recai sobre os ímpios, e que nenhum trono erguido sobre a maldade pode permanecer de pé.

* o relato sobre a rainha Jezabel se encontra nos seguintes textos bíblicos:

1 Reis 21:17-29 e 2 Reis 9:30-37

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Junior Omni - 2025

JUNIOR OMNI
Enviado por JUNIOR OMNI em 13/03/2025
Reeditado em 13/03/2025
Código do texto: T8284427
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