Deus é poeta
eu sou pó
Meus olhos não se cansam
de olhar o céu infinito
Nem os ouvidos se fartam de ouvir
o guizo das estrelas
“Olhai as aves do céu:
não semeiam nem ceifam
nem recolhem no celeiro
e o vosso Pai, celeste as alimenta”.[1]
“Considerai como crescem os lírios do campo.
Não trabalham nem fiam. Mas, nem Salomão
no auge de sua glória se vestiu como um deles”.[2]
Eu sou pó
E por sobre o telhado dos sítios e ilhas virtuais
anuncio o Evangelho
Prego
Nas mãos, nos pés
Enfio o cetro de ferro e ouro
no coração do incrédulo
Nas mãos do surdo e do mudo
deposito o tesouro do Senhor
Rogo que O sigam
Rego a planta
Que o próprio Deus
fez germinar
Com a palavra divina na mão, na boca, no coração,
sou ceifeiro, empreiteiro do Deus Vivo
Meu anjo da guarda é quem me guia
Anuncia:
“O fim dos tempos se aproxima!”
E eu, de cima do telhado
Ao mar e ao vento grito
Ninguém me ouve
Ninguém ouve meu grito
Mas, o pé de couve se inclina
Os peixes pulam acima do nível
das águas do rio e do mar...
Vêm à tona para ouvir Antônio,
de Pádua, de Lima, de cima do telhado
anunciar: o reino de Deus está próximo
Epicureus acusam-me de pensar em bloco
e levar ovelhas por caminhos inóspitos
Mas, com a Palavra sopro aos quatro ventos
Não me calo com o ladrar dos cães vorazes
Que são capazes de destruir o mundo
Mas não conseguem edificar a Igreja
São obreiros da casa de palha
Doutrina falha de raiz superficial
Pelo bem, e jamais pelo mal
Continuarei tocando flauta,
até que caiam por terra
as Muralhas
Do viver sem Deus
E apenas, de modo quê
A prosperidade venha a fazer
Morada em sua tenda
Ajoelhado como a Madre de Calcutá
Quero doar-me até doer
Como vela que queima no Altar
Quero juntar-me às águas que jorram
do templo, na fonte da misericórdia
Ainda que para tanto
Tenha que entregar-me ao martírio branco
ou vermelho
Quando o Senhor me chamar
Que eu possa dizer como Samuel
“Fala, Senhor, o teu servo Te escuta”
Dá-me nas mãos a minuta
E o rascunho do Teu caderno
A fim de que eu possa levar muitos
para o céu, não para o inferno.
[1] Lucas 6,26a
[2] Lucas 6,28-29