O poder ameaçado - Mateus 2.3

O poder ameaçado

No mundo antigo o poder e domínio sobre um território estava concentrado nas dinastias, ou seja, famílias que estavam no poder e este era passado de geração em geração, de pai para filho ou filha. Uma dinastia só perdia o poder por ocasião de outra dinastia conquistar o território e então a família perdedora tornava-se vassala da dinastia vitoriosa. Também havia o caso do rei ser assassinado, neste caso a dinastia ocupava o lugar do derrotado. Isto aconteceu em vários locais, inclusive no tempo dos reis de Israel, quando um rei era morto por pessoas que queriam a coroa e tudo que ela trazia: prestígio, honra, riquezas e poder.

No tempo em que Jesus nasceu, estava no poder uma dinastia que subiu ao trono do território que compreendia a Judeia, Galileia e outras terras vizinhas desde 37 a.C. Trata-se da dinastia de Herode, que começou a se envolver na política de Israel no reinado dos asmoneus, que foi fundada por Judas Macabeu. Após a queda do reinado dos asmoneus pelo império romano em 63 a.C, a família de Herodes foi escolhida para ocupar o poder local como um representante para o imperador romano. Foi no tempo deste rei Herodes, o grande, que Jesus nasceu em Belém e ao saber pelos magos do Oriente que o Rei de Israel tinha nascido, causou nele uma perturbação.

Mas que motivos o rei Herodes teria para se preocupar? A família dele tinha o poder, o império romano apoiava seu cargo, havia construído o templo para os judeus prestarem culto. O que poderia tirá-lo do poder? Será que ele conhecia ou acreditava nas profecias da vinda de um rei messiânico, da linhagem de Davi? Já haviam se passado séculos desde as profecias de Isaías e nada havia acontecido. Pelo sim ou pelo não da profecia estar se cumprindo, o rei Herodes mandou matar todas as crianças de Belém abaixo de dois anos, só por precaução, para que seu cargo, seu prestígio e poder não fossem abalados.

Toda essa história de reis, linhagem e sucessão de cargos reais é bem distante da nossa realidade. Alguns países da nossa era até mantém uma linhagem real, mas em sua maioria os reis ou rainhas tem cargo puramente simbólico, embora, ainda tenham prestígio e riqueza. Mas o que podemos aprender com esse abalo ou perturbação que Herodes sentiu ao saber que o Rei de Israel havia nascido?

O primeiro ponto que podemos destacar é a famosa zona de conforto. É aquela situação clássica em que tudo está bom e nada vai mudar tão cedo, ou ainda, uma posição que se ocupa numa empresa ou na esfera pública em que ninguém mexe com você e não requer muitos esforços, apenas manter o arroz com feijão. O rei Herodes sentia-se nesta zona de conforto, tinha um poder que foi confiado pelo império romano, não tinha grande antipatia por parte do povo, pois preferiam a ele do que alguém do império romano, tinha suas riquezas e poder sobre o povo, enfim, não precisava de mais nada. O filho de Herodes, o Antipas, aquele que prendeu João Batista, também viveu esbanjando, fazendo festas e numa delas chegou a prometer de forma extravagante, típica dos reis, metade do reino para Salomé, conforme está em Marcos 6.23. É muito perigoso entrar numa zona de conforto, pois ela nos leva a estagnação e deixamos de produzir frutos.

O segundo ponto relaciona-se com a origem do poder que alguém conquista ou recebe. Uma dada posição que alguém possui foi dada pela autoridade de quem? No caso da dinastia de Herodes, o poder foi dado pelo Império Romano. E segundo a História, esta dinastia durou pouco pensando nas grandes famílias imperiais, pois iniciou em 37.a.C e terminou em 100 d.C. Teve ao total seis reis, sendo que três reinaram simultaneamente em regiões diferentes após a morte do pai, o Herodes, o grande. O último Herodes da dinastia foi Agripa II que foi deposto em 92 d.C pelo Império Romano que decidiu dar fim a essa dinastia no poder devido a Revolta Judaica ocorrida anos antes, além de disputas internas na família herodiana, além perda de confiança dos romanos em relação aos herodianos. Podemos aprender que pode-se perder uma posição num estalar de dedos dependendo da forma como se conseguiu chegar.

Por fim podemos ficar com a lição de que se ocupamos uma posição na sociedade, na igreja ou administração pública ou prirvada, devemos saber que é essa posição que nos dá os poderes e não qualquer coisa em nós, claro que para consegui-lo tivemos que cumprir os requisitos, mas só os requisitos por si não temos o poder. O que eu quero dizer é que nossa identidade não pode estar na posição ocupada, pois ele é passageiro, independente de sermos eficientes e tecnicamente aptos. Nós, como cristãos, devemos estar com nossa identidade firmada em Cristo e ponto. A segunda questão é que tendo conquistado uma posição devemos lembrar de que devemos fazê-lo com todo zelo e dedicação, como se fosse para Deus, é a Ele que devemos glorificar no exercício dos nossos deveres, conforme está em Colossenses 3.23. Um exemplo interessante de uma pessoa que foi ovacionada, aplaudida e não deu glória para Deus e perdeu a própria vida, foi outro da dinastia de Herodes, conforme está em Atos 12.19 -23 - Eles começaram a gritar: ― É voz de um deus, não de homem. Visto que Herodes não glorificou a Deus, imediatamente um anjo do Senhor o feriu, e ele morreu comido por vermes. Nesta passagem Herodes fez algo de bom, que foi conceder terras para o povo de Tiro e Sidom obter alimentos, embora estivesse com raiva deles.

Concluindo, pode-se dizer que é muito arriscado essa história de se acomodar numa posição, achar que pode isso e aquilo. Este é um pensamento secular, de gente que confia que a vida é só aqui e nada mais. Que riquezas, poder e honra vão dar carta branca para fazer e acontecer. Depois que Jesus nasceu, cresceu e foi batizado pelo Espírito Santo, a primeira coisa que aconteceu não foi sentar no trono em Jerusalém, mas sim passar um tempo no deserto, ser provado e aprovado, para então iniciar seu ministério. Um dos propósitos a que Jesus veio foi :transformar corações, tirar o coração de pedra e por um coração de carne. Ele não veio ocupar uma cadeira de rei segundo os padrões humanos, conforme esperava os fariseus e seus discípulos. Nunca é demais lembrar as palavras de Jesus em relação a liderança: quem quiser ser líder tem que servir, conforme está em Mateus 20.26-27 (Ao contrário, quem desejar ser importante entre vós será esse o que deva servir aos demais. 27) E quem quiser ser o primeiro entre vós que se torne vosso escravo, mas tem muita gente que quer se servir da posição para usufruir de coisas passageiras.

21/11/2024

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 22/11/2024
Código do texto: T8202792
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