A Essência Divina e a Religião
Entendendo a diferença entre a ideologia religiosa e o verdadeiro amor e justiça de Deus, sem destinação de pessoas.
A religião, como sistema de crenças e práticas, molda a ideologia que rege a vida de muitos, mas é essencial entender que a essência de Deus transcende essas construções humanas. A religião oferece meios para que as pessoas se aproximem do divino, mas Deus, em sua natureza absoluta, não determina um destino rígido para as pessoas nem discrimina entre elas. Ele oferece o livre-arbítrio, para que cada indivíduo faça suas próprias escolhas, conforme se lê em Deuteronômio 30:19: "Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam."
Os estudiosos da teologia ressaltam que a religião é uma estrutura criada pela humanidade para tentar compreender e vivenciar o sagrado. O teólogo Paul Tillich argumenta que a religião é o que direciona o "interesse último" das pessoas, ou seja, aquilo que confere significado e propósito à vida. Entretanto, é importante lembrar que Deus, em sua infinitude, não está limitado a esses conceitos humanos e, portanto, não atua de maneira fatalista, predestinando uns à salvação e outros à perdição.
A ideia de que Deus não faz distinção entre pessoas é reforçada em Atos 10:34-35, onde Pedro declara: "Deus não mostra favoritismo, mas aceita todos os que o temem e fazem o que é justo, independente de nação." Esse versículo destaca o caráter imparcial e justo de Deus, que está além das convenções e fronteiras estabelecidas pelas religiões. A graça divina está acessível a todos, sem preferência por uma etnia, nação ou status social específico.
O livre-arbítrio é um dos fundamentos da fé cristã, que afirma a responsabilidade pessoal das escolhas de cada indivíduo. Santo Agostinho, por exemplo, dizia que Deus criou o homem com a capacidade de escolher e seguir o próprio caminho. Em seu livro "Sobre o Livre-Arbítrio", ele defende que, embora Deus conheça todas as possibilidades, Ele permite que o ser humano faça suas próprias decisões e lide com as consequências delas, oferecendo orientação, mas não interferindo.
Jesus também exemplifica essa liberdade em Mateus 11:28, ao dizer: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso." Ele convida, mas não força; acolhe, mas não impõe. O amor de Deus é inclusivo e convida a todos a escolher o caminho do bem e do amor, sem que isso seja uma imposição divina ou uma destinação obrigatória.
A ideia de que Deus predestina pessoas específicas para certos caminhos muitas vezes vem de interpretações religiosas que se afastam da mensagem de liberdade e amor contida nas Escrituras. Os teólogos modernos, como Karl Barth, argumentam que Deus, ao se revelar em Cristo, ofereceu a todos uma nova chance de transformação, sem distinção. Esse amor incondicional é essencial, e a salvação é acessível a todos que escolhem acreditar, como enfatiza João 3:16: "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna."
É fundamental, portanto, diferenciar entre os ensinamentos puros sobre Deus e as ideologias que podem surgir nas religiões organizadas. A religião, ao longo da história, influenciou culturas e formou tradições, algumas das quais podem não estar completamente alinhadas com a natureza compassiva e livre de Deus. A religião é, em muitos sentidos, um veículo; mas Deus, em sua essência, é um mistério de amor, justiça e misericórdia que vai além das limitações desse veículo.
A diversidade de doutrinas religiosas mostra a riqueza de maneiras pelas quais diferentes culturas e sociedades interpretaram a experiência do sagrado. O filósofo Søren Kierkegaard observou que a fé é uma jornada pessoal, uma relação direta entre a pessoa e Deus. Essa visão destaca que a conexão espiritual não precisa ser mediada por ideologias fixas, mas deve ser cultivada no coração e na prática de cada um.
É importante lembrar que, no final, Deus não escolhe nem privilegia certos indivíduos ou grupos com base em mérito ou em doutrinas específicas. Ele oferece a todos a mesma oportunidade de aproximação e transformação. Romanos 2:11 confirma: "Pois em Deus não há favoritismo." Esse princípio enfatiza que todos têm igual valor diante de Deus e são igualmente amados.
Assim, compreende-se que Deus, em sua imensidão, deixa que o amor, a fé e a busca pela verdade sejam os elementos centrais de uma vida dedicada ao divino, independentemente das ideologias religiosas que possam surgir. A religião pode apontar o caminho, mas Deus é sempre maior do que qualquer definição ou limite humanos.