Homilia do 17°Dom do Tempo Comum (Jo 6,1-15)(24/04/20)
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1. Caríssimos, em nosso dia a dia nos acostumamos com as leis naturais, e tudo o que foge às suas regras tendemos admirar ou então à desprezar; porém, isso depende da nossa disposição interior. Com efeito, a liturgia de hoje nos mostra que o modo de Deus agir no mais das vezes, diverge do nosso modo de entender (cf. Is 55,7-11), mas isso acontece sempre em vista da nossa salvação, porque que Ele nos criou e conhece muito bem as nossas necessidades.
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2. No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus transpõe a lei natural multiplicando cinco pães e dois peixes para mais de cinco mil pessoas com direito à sobras. Ora, alguns teólogos argumentam que Jesus apenas fomentou o gesto de partilha e assim todos se uniram a Ele.
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3. Todavia, mesmo que isso tenha acontecido não resta dúvida de que a ação do Espírito Santo nos corações dos que ali estavam, foi fundamental para que o milagre se realizasse. De fato, onde o Senhor Jesus se faz presente tudo acontece conforme a vontade do Pai.
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4. Então, ponhamos em prática a inspiração do Espírito Santo como nos ensinou são Paulo: "Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros. Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus." (Fil 2,3-5).
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5. Decerto, não existe limites para as graças de Deus realizar-se, basta fazermos a sua vontade para que a sua Divina Providência entre em ação realizando o seu querer e o seu agir sagrado suprimindo todas as nossas necessidades, tal qual nos ensinou o Senhor: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo." (Mt 6,33).
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6. Comentando este Evangelho disse Santo Agostinho: "Os milagres realizados por Nosso Senhor Jesus Cristo são obras verdadeiramente divinas, que dispõem a inteligência humana para conhecer a Deus a partir do que é visível, pois os nossos olhos são incapazes de O ver, em consequência da sua natureza divina.
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7. Com efeito, os milagres que Deus opera para governar o Universo e organizar toda a sua criação, à força de se repetirem, perderam o seu valor e quase ninguém se dá ao trabalho de reparar que obra maravilhosa e surpreendente Ele opera numa sementinha qualquer.
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8. É por isso que, na sua benevolência, Ele Se reserva a possibilidade de realizar, no momento escolhido, algumas ações fora do curso normal das coisas. É que aqueles que menosprezam as maravilhas de todos os dias ficam estupefatos à vista de obras que saem do normal e nem reparam nas outras.
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9. Na verdade, governar o Universo é um milagre maior do que saciar cinco mil homens com cinco pães! E contudo ninguém se espanta com isso. Com efeito, quem alimenta ainda hoje o Universo senão Aquele que cria grandes searas a partir de umas poucas sementinhas?
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10. Cristo age, pois, em Deus. É pelo seu poder divino que faz sair abundantes colheitas de um pequeno número de sementes, e foi por esse mesmo poder que multiplicou os cinco pães. As mãos de Cristo estavam cheias de poder. Esses cinco pães eram como que sementes, que, mesmo não tendo sido lançadas à terra, foram multiplicadas por Aquele que fez o céu e a terra."
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(Santo Agostinho (354-430), doutor da Igreja - Comentário sobre o evangelho de João)
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.