Festa do martírio de São Tome (Jo 20,24-29)(03/7/24)
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1. Caríssimos, hoje a Igreja celebra com grande alegria a festa do martírio do Apóstolo são Tomé, aquele que deu a vida por seu Senhor e Deus, depois de ter passado pela grande prova da incredulidade mesmo depois de ter ouvido o testemunho dos outros Apóstolos de que tinham visto o Senhor ressuscitado e experimentado a alegria da Sua Ressurreição.
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2. De fato, depois de ter participado do discipulado de Cristo, recebendo os seus ensinamentos, vivenciado os seus prodígios e milagres, ainda assim Tomé não acreditou no autêntico testemunho dos outros Apóstolos, que certamente os deixou constrangidos diante da dureza do seu coração.
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3. No entanto, como o Senhor se faz presente sempre em todas as situações de nossa vida, de imediato se lhe apresentou e o convocou à tocar em suas chagas abertas para que fosse curado da cegueira espiritual que ainda o mantinha na morte, levando-o a experimentar como os outros discípulos a alegria da Sua Ressurreição.
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4. Com efeito, essa luta travada por Tomé, entre a incredulidade e a fé, é a mesma que travamos também nós em nossos dias, em que tudo o que vemos dos pecados cometidos pelos os homens é uma negação explícita dos ensinamentos do Senhor Jesus, da Sua Ressurreição, da Sua presença no meio de nós, e de tudo o que há de mais sagrado, e é por essa incredulidade que este mundo está se tornando um antro de perdição eterna.
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5. E isto porquê, como está escrito na Carta aos Hebreus: "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram." (Hb 11,6). Pois, tudo nos fala de Deus, como nos ensina São Paulo: "Porque nele se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à fé, como está escrito: O justo viverá pela fé (Hab 2,4).
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6. Portanto, caríssimos, certamente Tomé sofreu tal tentação e nela caiu por dois motivos: primeiro, por sua ausência na comunidade dos discípulos, pois, quanto mais isolados, mais facilmente caímos na tentação da incredulidade. Segundo, o Senhor está sempre conosco, mas precisamos estarmos com Ele, mesmo quando nos isolamos; pois Ele nos ama, e cura com as suas chagas abertas, a ferida das nossas dúvidas para que assim participemos da alegria da Sua Ressurreição.
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7. Comentando o Evangelho de hoje, disse São Tomás de Vilanova: "Tomé soltou esta exclamação sublime: "Meu Senhor e meu Deus". Esta profissão de fé, maior do que a incredulidade passada, não poderia ter soado mais alto: é todo o conteúdo da fé que está incluído nesta breve exclamação.
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8. Maravilhosa penetração deste homem, que toca no Homem e Lhe chama Deus, que toca numa coisa e acredita na outra. Tivesse ele escrito mil livros, não teria servido tão bem a Igreja. Com que clareza, fé e simplicidade chama Deus a Cristo! Que palavra tão útil e necessária para a Igreja de Deus!
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9. Foi graças a ela que as piores heresias foram outrora extirpadas da Igreja. Pedro foi elogiado por ter dito: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt 16,16); ora, é ainda que com maior clareza que Tomé exclama: "Meu Senhor e meu Deus", confessando, com estas simples palavras, as duas naturezas de Cristo. "Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto" .
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10. Estas palavras, irmãos, nos dão uma grande consolação. Sempre que dizemos ou exclamamos: "Bem-aventurados os olhos, bem-aventurado o tempo, bem-aventuradas as pessoas que tiveram a sorte de ver e contemplar tão grandes mistérios", estamos a falar a verdade, porque o Senhor disse: "Bem-aventurados os olhos que veem o que vedes" (Lc 10,23).
11. Todavia, Ele também disse: «Felizes os que acreditam sem terem visto». E estas palavras geram uma consolação ainda maior, apontam para um mérito maior. A visão dá mais alegria; a fé dá maior honra."
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São Tomás de Vilanova (c. 1487-1555), eremita de Santo Agostinho, bispo - Sermão para o Domingo in albis).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.