BEM-AVENTURADOS OS MISSIONÁRIOS (Uma reflexão)

O missionário e as bem-aventuranças de Mt 5.1-16

Bem-aventurados os pobres de espírito

Não há pobres de espírito entre os principais, pois a humildade não costuma habitar os píncaros. Os pobres de espírito estão no chão, varrendo o salão, alheios à disputa por cargo e comissão. Os pobres de espírito seguem o rastro do Espírito Santo, nele habitam, ouvem seu chamado e cumprem sua missão.

Bem-aventurados os que choram

Observar os campos brancos para a ceifa e chorar por ver o fruto se perder: aqui se fundam os missionários. Na lágrima que cai, na que persiste, na que leva a ir, ajuda a ficar, insta a não desistir. As lágrimas pela perdição eterna de um mundo são as principais das lágrimas, a arquitetura do servo, e missionário é aquele que primeiro as derrama. E sustenta seu caudal até a glória.

Bem-aventurados os mansos

É fácil ser ovelha em meio a ovelhas. Mas, lançar-se entre lobos, isso exige coragem, quase uma pré-disposição para o sacrifício, uma fidelidade acima do humanamente comum: Isso exige mansidão. Da coragem de entregar-se nas mãos do Oleiro e ir, descansar no navio enquanto ruge a fornalha fria da tormenta, desta mansidão confiante, se moldam missionários.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça

Doce é estar em segurança, na luz do Estado de direito. Mas como é duro cumprir a ordenança, abrir a boca em favor do que não pode falar! Do que tem seus direitos, espirituais e terrenos, vilipendiados! Os que têm fome de tapar esta brecha que o pecado escancarou, não apenas em si e no seu arraial, mas lá na trincheira, na chaga do mundo, este sabe que só pode dessedentar-se cumprindo a comissão que o engajou.

Bem-aventurados os misericordiosos

Não há misericórdia maior do que buscar livrar os que avançam para a chama eterna. Pois ignorar que haverá chama é descuidar da misericórdia, é acovardar-se em prejuízo de si e do próximo. Atentar para o risco primeiro, e maior, e fundamentalmente único que jaz sobre os homens – a eterna danação –, e contra tal risco ofertar-se, holocausto vivo: Eis a bem-aventurança de um misericordioso. Eis a vereda missionária.

Bem-aventurados os puros de coração

É necessária pureza de coração para lançar-se em socorro do outro a quem nunca se viu, longe das glórias, recompensas, amigos e amparos visíveis. É necessária pureza de ânimo e de propósitos, para não abandonar o barco, o campo, a seara. Quem, senão os puros, para não duvidarem de Deus quando os homens, duvidosos, olvidarem o campo, a seara e, cegos de si, olvidarem aquele um dia por eles mesmos enviado?

Bem-aventurados os pacificadores

Adentrar outras regiões e outras culturas, levando a paz de Cristo e combatendo os erros que defrontar, alguns inimagináveis, com sabedoria e unção, medindo o cronos e o kairós, é ser fundamentalmente um pacificador, o principal deles. Avance com teus joelhos, formosos quando assomam sobre os montes, ó emissário de Cristo: “Eu vi Satanás caindo do céu como um raio”.

Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça

Como os que investem contra as fortalezas de Satanás sofrem perseguição! Aqueles que apenas as miram à segura distância, e vez por outra clamam: “Vá até lá, anjo do Senhor, e ajude”, quão seguros estão, tão longes da dor, tão longes de Deus. Mas aqueles que sabem e vivem que a missão não pertence a anjo algum, mas a homens fiéis, e lançam-se, e cuja vida é um suspense, um risco diário e noturno, oh, quão bem-aventurados são! Cumprem, na ação praticada e na sofrida, o que predisse Aquele de quem sois os fiéis imitadores: “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.”

Bem-aventurado sejas, missionário, acervo das bem-aventuranças de Deus, delas o fiel depositário, bem-aventurada figura de barro, pequena e frágil, mas a mais aproximada de Cristo que a Terra, indigna, suporta os passos.

Sammis Reachers

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